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Etnografías de lo digital - UNED

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III Congreso Online - Observatorio para la Cibersociedad<br />

‘Conocimiento abierto, Sociedad libre’<br />

41<br />

<strong>Etnografías</strong> <strong>de</strong> <strong>lo</strong> Digital<br />

Grupo <strong>de</strong> trabajo<br />

Internet vai minando, permeando toda a nossa socieda<strong>de</strong> e alterando o nosso modo<br />

<strong>de</strong> vida. A <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Kasparov é semelhante à do grupo <strong>de</strong> operários que, nos finais<br />

do Sécu<strong>lo</strong> XVIII e princípios do Secu<strong>lo</strong> XIX, revoltados contra a introdução das<br />

máquinas automáticas, <strong>de</strong>cidiram <strong>de</strong>struí-las pensando que assim paravam a<br />

revolução industrial 31 . Constitui também a metáfora da condição humana que se<br />

<strong>de</strong>ixou surpreen<strong>de</strong>r pe<strong>lo</strong> crescimento das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interacção <strong>digital</strong>. Não temos<br />

po<strong>de</strong>res para <strong>de</strong>struir as máquinas e as re<strong>de</strong>s e os seus efeitos, mas temos o po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> as compreen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> influenciar o seu funcionamento, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as<br />

co<strong>lo</strong>car ao serviço do <strong>de</strong>senvolvimento e condição humanos.<br />

Aponta-se por vezes que os conceitos, ou as teorias comandam as revoluções<br />

científicas e sociais. Não será necessário pensar até que ponto as mudanças<br />

tecnológicas 32 trazem consigo <strong>de</strong>safios e consequências sociais mais profundas que<br />

as produzidas pe<strong>lo</strong>s conceitos e pelas i<strong>de</strong>ias? Será possível enten<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong>, forma<br />

separada, tecno<strong>lo</strong>gia e condição humana?<br />

A primeira perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma antropo<strong>lo</strong>gia <strong>digital</strong>, ou <strong>de</strong> uma<br />

antropo<strong>lo</strong>gia (social ou cultural) da socieda<strong>de</strong> <strong>digital</strong>, seria obviamente - uma<br />

antropo<strong>lo</strong>gia das transformações sociais e culturais na era <strong>digital</strong>.<br />

31 Ned Ludd, cidadão do condado inglês <strong>de</strong> Leicestershire, ter-se-á tornado um herói popular <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter<br />

<strong>de</strong>struido uma máquina (1770-80) <strong>de</strong> tricotar meias, na fábrica on<strong>de</strong> trabalhava. O seu pseudónimo "King Ludd"<br />

e "General Ludd" foi-lhe dado por alguns rebel<strong>de</strong>s anti-industriais frequentemente <strong>de</strong>nominados ludistas. Os<br />

ludditas não eram, no início, operários <strong>de</strong> fábrica. Eram, na maioria, artesãos extremamente hábeis das al<strong>de</strong>ias,<br />

principalmente <strong>de</strong> Yorkshire, que lidavam com vários tipos <strong>de</strong> comércio na indústria <strong>de</strong> lã. Eram bem pagos e, o<br />

que é mais importante, eram lí<strong>de</strong>res comunitários <strong>de</strong> sólidas relações familiares, com <strong>de</strong>voção pela tradição e<br />

pela indústria doméstica. A Indústria, à medida que as fábricas e as máquinas automáticas se espalhavam pe<strong>lo</strong><br />

interior da Inglaterra interior, estava rapidamente a ganhar terreno. Nesta situação homens, mulheres e crianças<br />

eram metidos nas fábricas e os métodos tradicionais tiveram <strong>de</strong> dar lugar à disciplina do <strong>lo</strong>cal <strong>de</strong> trabalho. Para<br />

os artesãos, isso significava tanto a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> seus pequenos negócios como o dilaceramento da estrutura<br />

doméstica e da vida em comunida<strong>de</strong>. De uma maneira altamente organizada e sistemática, os artesãos e seus<br />

aliados - os "ludditas" - penetraram nas fábricas à noite e reduziram a pedaços as máquinas <strong>de</strong> tecelagem. Outra<br />

versão diz-nos que os ludditas eram grupos <strong>de</strong> individuo organizados, mascarados e anónimos cujo objectivo era<br />

<strong>de</strong>struir a maquinaria usada na industria têxtil. Consi<strong>de</strong>ravam-se her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Ned Lud e da sua lendária<br />

hiroicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>struido as máquinas. O levantamento não foi exclusivo dos trabalhadores texteis.<br />

Trabalhadores agricolas, moleiros e mineiros e muitos outros participaram na <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> máquinas. Nem<br />

exclusivo da inglaterra. Em Aix la Chapelle os operários <strong>de</strong>struiram as importantes fábricas <strong>de</strong> Cockerill. Muitos<br />

outros fizeram os mesmo no começo da revolução industrial. Actualmente po<strong>de</strong>remos dizer que os tecnófobos<br />

renovam a tradição ludista? Pacheco Pereira afima “Há ludditas no jornalismo, nas universida<strong>de</strong>s, nos partidos<br />

políticos, nos empresários. Têm a nostalgia <strong>de</strong> um mundo or<strong>de</strong>nado, <strong>de</strong> que eles são ou os produtores da or<strong>de</strong>m<br />

ou os polícias da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. Divulgam a i<strong>de</strong>ia que a indústria do comentário produz perversões, subversões e<br />

perturbações, em suma, inutilida<strong>de</strong>s perigosas que nenhuma falta fazem” (Abruto -<br />

http://abrupto.b<strong>lo</strong>gspot.com/).<br />

32 Sécu<strong>lo</strong> XIX “os primeiros cineastas soviéticos, como Sergei Eisenstein e Dziga Vertov, tinham experiência<br />

profissional na engenharia, na arquitectura e no <strong>de</strong>sign gráfico. Foram recrutados para o cinema como reacção à<br />

ec<strong>lo</strong>são da Revolução Bolchevique, procurando uma fusão das artes e da engenharia numa altura em que a<br />

tecno<strong>lo</strong>gia era vista como a chave da transformação da Rússia <strong>de</strong> um estado feudal para uma utopia dos<br />

trabalhadores. Construíram as suas teorias numa linguagem <strong>de</strong>rivada dos ambientes mais técnicos, com Vertov<br />

celebrando o “homem com a máquina <strong>de</strong> cinema”, parte artista e parte engenheiro, com Kuleshov a falar dos<br />

seus primeiros trabalhos como “experiências”, com Eisenstein a escrever sobre a edição da montagem<br />

relacionada com a reflexo<strong>lo</strong>gia <strong>de</strong> Pav<strong>lo</strong>v. Os seus artigos foram escritos para justificar o seu trabalho aos lí<strong>de</strong>res<br />

do Partido Bolchevique (uma espécie <strong>de</strong> escrita formal <strong>de</strong> garantia) ou para explicar uns aos outros as lições que<br />

tinham aprendido com projectos específicos (uma forma <strong>de</strong> relatório <strong>de</strong> laboratório). Qualquer compreensão<br />

teórica era imediatamente convertida em aplicações práticas. Muitos teóricos digitais trabalham segundo esta<br />

tradição techno, fundindo a teoria e a prática” (Jenkins, 1999).

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