Etnografías de lo digital - UNED
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III Congreso Online - Observatorio para la Cibersociedad<br />
‘Conocimiento abierto, Sociedad libre’<br />
55<br />
<strong>Etnografías</strong> <strong>de</strong> <strong>lo</strong> Digital<br />
Grupo <strong>de</strong> trabajo<br />
as sequências serão cada vez mais sistemáticas, mais ou menos <strong>de</strong>finitivas em<br />
função do objectivo atingido no quadro <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado programa <strong>de</strong> pesquisa.<br />
Os Media e a dimensão social colectiva da reflexivida<strong>de</strong><br />
Kilani, 1990: 102-103<br />
Os antropó<strong>lo</strong>gos começaram também a consi<strong>de</strong>rar a dimensão social colectiva da<br />
reflexivida<strong>de</strong> através da i<strong>de</strong>ntificação dos processos reflexivos nas pessoas que<br />
estudaram. Para tal tem contribuído quer a alfabetização e participação das<br />
populações, quer o <strong>de</strong>senvolvimento e a g<strong>lo</strong>balização dos media. Esta perspectiva<br />
tem sido proeminente nos estudos dos rituais, do <strong>de</strong>sempenho e na reconstituição<br />
da memória. O exemp<strong>lo</strong> mais frequentemente citado é o da interpretação <strong>de</strong> Geertz<br />
da luta <strong>de</strong> ga<strong>lo</strong>s em Bali como “uma leitura balinesa da experiência <strong>de</strong> Bali, uma<br />
história que eles mesmos contam sobre si próprios” (1991: 369) mas também o ritual<br />
cabo-verdiano Colá S. Jon, originários das ilhas do Barlavento e reconstituído nos<br />
países <strong>de</strong> imigração cabo-verdiana como “história <strong>de</strong> um povo que se conta a si<br />
mesmo e ao outro” (Ribeiro, 2000: 182), na Bugiada <strong>de</strong> Sobrado (Ribeiro) em que o<br />
<strong>de</strong>sempenho dos papéis rituais é referenciado a um mo<strong>de</strong><strong>lo</strong> literário <strong>de</strong> uma<br />
eventual escrita etnográfica e nos filmes First Contact (1982) <strong>de</strong> Bob Connolly e<br />
Robin An<strong>de</strong>rson e Rouch in Reverse (1993) <strong>de</strong> Manthia Diwara 41 . Esta reflexivida<strong>de</strong><br />
social po<strong>de</strong> ser explícita, uma reflexão consciente <strong>de</strong>liberada e <strong>de</strong> um povo sobre si<br />
próprio, como em First Contact em que um habitante da Papua Nova Guiné<br />
confrontando-se com as imagens do primeiro encontro com o homem branco e com<br />
o acto <strong>de</strong> tornar o passado presente através da voz das pessoas que testemunham<br />
este primeiro encontro, toma a palavra e diz: “É necessário conservar este filme para<br />
que as novas gerações o possam ver. Assim po<strong>de</strong>rão dizer entre si: eis como<br />
éramos!”, ou na Bugiada <strong>de</strong> Sobrado em que a performance ritual e o <strong>de</strong>sempenho<br />
dos papéis rituais remetem para um suposto trabalho do etnógrafo. Esta<br />
reflexivida<strong>de</strong> é, no entanto, normalmente apresentada como sendo apenas<br />
completamente revelada através das consi<strong>de</strong>rações reflexivas do etnógrafo.<br />
Quando a reflexivida<strong>de</strong> social explícita se combina com a reflexivida<strong>de</strong> do<br />
investigador individual, ao reconhecer que os dados são um produto cooperativo,<br />
estas ten<strong>de</strong>m a estimular a reflexivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma forma mais minuciosa e crítica que<br />
acompanha exigências <strong>de</strong> conhecimento e o <strong>de</strong>senvolvimento reflectido do ritual e<br />
dos <strong>de</strong>sempenhos dos papéis rituais (Bugiada <strong>de</strong> Sobrado) ou a tomada <strong>de</strong><br />
consciência da história <strong>lo</strong>cal 42<br />
em First Contact. Nesta perspectiva, o processo <strong>de</strong><br />
investigação é mais claramente apreendido como um encontro no qual o<br />
conhecimento é construído <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um processo social em que se configuram<br />
41 “Diawara fez como que um ritual <strong>de</strong> passagem por si próprio, uma antropo<strong>lo</strong>gia na primeira pessoa<br />
em que teve <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a sua própria mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, o seu conhecimento <strong>de</strong> África e o seu<br />
percurso <strong>de</strong> cineasta que passou inevitavelmente por Rouch. A antropo<strong>lo</strong>gia ao <strong>de</strong>screver o Outro<br />
acabou por paradoxalmente chamar o Eu para o centro do problema, fazendo emergir através das<br />
socieda<strong>de</strong>s tradicionais, futuras socieda<strong>de</strong>s (Ribeiro, 2000: 139).<br />
42 Esta mesma questão po<strong>de</strong> co<strong>lo</strong>car-se em relação a alguns filmes documentários como Nannok <strong>de</strong><br />
Flaherty adoptado pela comunida<strong>de</strong> como memória ou documento histórico importante. Os filmes<br />
mais que os trabalhos escritos po<strong>de</strong>m facilmente ser objecto do conhecimento e da apreensão das<br />
pessoas das estruturas, da cultura e da socieda<strong>de</strong> <strong>lo</strong>cais.