Etnografías de lo digital - UNED
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III Congreso Online - Observatorio para la Cibersociedad<br />
‘Conocimiento abierto, Sociedad libre’<br />
6<br />
<strong>Etnografías</strong> <strong>de</strong> <strong>lo</strong> Digital<br />
Grupo <strong>de</strong> trabajo<br />
práticas discursivas “regras históricas que garantem o exercício da função<br />
enunciativa” (FOUCAULT, 1999). A este respeito, Lecourt afirmou em tom <strong>de</strong> crítica<br />
e, ao mesmo tempo, <strong>de</strong> aceitação - em partes - da proposta <strong>de</strong> articulação que<br />
“A categoria <strong>de</strong> 'prática discursiva' é o indício <strong>de</strong>sta inovação teórica, no fundo<br />
materialista, que consiste em não aceitar nenhum discurso fora do sistema <strong>de</strong><br />
relações materiais que o estruturam e constituem. Por prática não se enten<strong>de</strong> a<br />
ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sujeito, e sim a existência objetiva e material <strong>de</strong> certas regras às<br />
quais o sujeito tem que (<strong>de</strong>) obe<strong>de</strong>cer” (LECOURT, 1980).<br />
Do interior da mesma corrente <strong>de</strong> crítica marxista althusseriana a qual Lecourt<br />
integrava, uma outra proposta <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> discurso surgiu durante o mesmo<br />
período na França com os trabalhos do filósofo Michel Pêcheux 4 . Costuma-se<br />
creditar a ele a inauguração da análise <strong>de</strong> discurso por ter <strong>de</strong>dicado-se abertamente,<br />
ao contrário <strong>de</strong> Foucault, à criação <strong>de</strong> um método que pu<strong>de</strong>sse articular <strong>de</strong> modo<br />
bastante heterodoxo a lingüística, o materialismo histórico e a psicanálise. Desta<br />
proposta <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> discurso, um conjunto <strong>de</strong> ferramentas são pertinentes para o<br />
nosso trabalho <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong> práticas discursivas na Internet, a começar pela<br />
noção central <strong>de</strong> interdiscurso: a memória dos dizeres como condição <strong>de</strong><br />
significação das práticas <strong>de</strong> linguagem.<br />
O interdiscurso é o espaço virtual da memória, plano das relações latentes<br />
entre uma série heterogênea <strong>de</strong> discursos. A noção <strong>de</strong> memória discursiva permitenos<br />
pensar, por exemp<strong>lo</strong>, as condições para a circulação (eletrônica) do discurso em<br />
uma dada or<strong>de</strong>m do discurso na Internet, pois é em seu âmbito que as re<strong>de</strong>s<br />
discursivas são retrabalhadas através <strong>de</strong> práticas concretas. Para Foucault, bastante<br />
próximo neste aspecto <strong>de</strong> Pêcheux, em sua discussão das “formas <strong>de</strong> coexistência<br />
no campo enunciativo”, a questão do interdiscurso também aparece como memória<br />
no chamado campo <strong>de</strong> presença: “Todos os enunciados já formados em algum lugar<br />
e que são retomados em um discurso a títu<strong>lo</strong> <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>” (FOUCAULT, 1999).<br />
Sob a primazia do interdiscurso, por conseguinte, duas formas são fundamentais na<br />
garantia <strong>de</strong> todo o dizer: a paráfrase e a polissemia. A primeira, a retificação, o<br />
trabalho sobre o mesmo, o enunciado já dito – embora em condições <strong>de</strong> produção<br />
distintas – que retorna como base para o dizer; e a segunda, como o novo sobre o<br />
mesmo, a emergência <strong>de</strong> novas significações e <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> dizer que se<br />
co<strong>lo</strong>cam como possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestabilização dos já-ditos. Com efeito,<br />
assumimos que o espaço <strong>de</strong> intervenção do pesquisador a ocupar-se das<br />
manifestações discursivas em textos eletrônicos (hipertexto) po<strong>de</strong> se <strong>lo</strong>calizar neste<br />
jogo <strong>de</strong> palavras e sentidos, procurando observar – em função das diferentes<br />
condições sob as quais a enunciação se dá – a peculiarida<strong>de</strong> do atravessamento do<br />
pesquisa dos contextos <strong>de</strong> formação); não busca, tampouco, encontrar o que neles se exprime (tarefa<br />
<strong>de</strong> uma hermenêutica); ela tenta <strong>de</strong>terminar com as regras <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> – e que<br />
caracterizam a positivida<strong>de</strong> a qual pertence – po<strong>de</strong>m estar ligados a sistemas não-discursivos:<br />
procura <strong>de</strong>finir formas específicas <strong>de</strong> articulação” (FOUCAULT, 1999: 186).<br />
4 Existem pontos <strong>de</strong> contato e divergência entre o trabalho <strong>de</strong> Foucault e o <strong>de</strong> Pêcheux. Po<strong>de</strong>ríamos<br />
situar como o contato primordial o do Circu<strong>lo</strong> <strong>de</strong> Epistemo<strong>lo</strong>gia composto por discípu<strong>lo</strong>s <strong>de</strong> Althusser<br />
- dos quais Pêcheux e Dominique Lecourt faziam parte - e Foucault através <strong>de</strong> um questionário sobre<br />
o método utilizado em “As Palavras e as Coisas” (dando origem ao esboço do que viria a constituir o<br />
livro “A arqueo<strong>lo</strong>gia do Saber”). Desta discussão <strong>de</strong>sdobram-se duas formas majoritárias e distintas<br />
<strong>de</strong> análise <strong>de</strong> discurso na França: o mo<strong>de</strong><strong>lo</strong> marxista-althusseriano e o mo<strong>de</strong><strong>lo</strong> foucaulteano. O texto<br />
<strong>de</strong>sta discussão foi publicado em "Réponse au Cercle d’Epistémo<strong>lo</strong>gie" em Cahiers pour l’Analyse,<br />
número 9, <strong>de</strong> 1968.