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Etnografías de lo digital - UNED

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III Congreso Online - Observatorio para la Cibersociedad<br />

‘Conocimiento abierto, Sociedad libre’<br />

96<br />

<strong>Etnografías</strong> <strong>de</strong> <strong>lo</strong> Digital<br />

Grupo <strong>de</strong> trabajo<br />

pe<strong>lo</strong> fato <strong>de</strong> que este é apreendido apenas pe<strong>lo</strong> modo como é especificamente<br />

vivenciado por um sujeito <strong>de</strong>terminado. Para Sartre inexiste o tempo "em geral", o<br />

tempo "universal": explicar o tempo <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista exterior, como elemento<br />

objetivo no qual o homem está inserido, é <strong>de</strong>senvolver uma falsificação do para-si;<br />

pois, se o tempo condiciona a realida<strong>de</strong> humana, o para-si se transforma num em-si,<br />

e a liberda<strong>de</strong> sucumbiria ao <strong>de</strong>terminismo. A noção sartreana <strong>de</strong> “temporalida<strong>de</strong>",<br />

abarca uma estrutura do próprio para-si, cujas dimensões, o passado, o presente e o<br />

futuro, são <strong>de</strong>nominadas por eles como "momentos estruturados <strong>de</strong> uma síntese<br />

original (SARTRE:1957:158)". Isto aponta, na obra <strong>de</strong> Sartre, a temporalida<strong>de</strong> como<br />

particularida<strong>de</strong> original do para-si.<br />

Aliando-se a Sartre, Norbert Elias, escreve acerca da maneira <strong>de</strong> “i<strong>de</strong>alizar e <strong>de</strong><br />

experimentar o tempo” (ELIAS 1998: 98), não como um dado biológico ou<br />

metafísico, mas como uma dimensão social. Sob esta perspectiva, é possível<br />

discutir como o tempo se estrutura a partir <strong>de</strong> uma dimensão simbólica, e se torna<br />

um a<strong>de</strong>nsamento das polissemias do processo civilizador que o inscreve, gerando<br />

um mecanismo <strong>de</strong> controle, que corporificado na forma <strong>de</strong> habitus, expressaria, com<br />

exatidão, as condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e os processos <strong>de</strong> aprendizado inscritos<br />

nas socieda<strong>de</strong>s que o mo<strong>de</strong>lam. Para tanto, necessário se faz validar o fato <strong>de</strong> que<br />

a noção <strong>de</strong> tempo não é natural, mas um construto social, um tradutor <strong>de</strong> sentidos.<br />

Inquilinos e co<strong>lo</strong>nizados pe<strong>lo</strong> sentido <strong>de</strong> tempo construído pe<strong>lo</strong> or<strong>de</strong>namento social,<br />

os agentes sociais viram, ao <strong>lo</strong>ngo <strong>de</strong>ste processo, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> validar a<br />

<strong>de</strong>terminação dos sentidos do tempo, no início exclusiva dos sacerdotes, se<br />

transferir, continuadamente, entre estes e os comandos laicos, para enfim passar,<br />

nas socieda<strong>de</strong>s capitalistas, a consistir em privilégio exclusivo do Estado. “A<br />

autodisciplina em matéria <strong>de</strong> tempo, a exemp<strong>lo</strong> <strong>de</strong> outras capacida<strong>de</strong>s sociais, só se<br />

<strong>de</strong>senvolveu muito lentamente ao <strong>lo</strong>ngo dos sécu<strong>lo</strong>s e só atingiu sua forma atual<br />

ligando-se ao surgimento <strong>de</strong> exigências sociais específicas”, escreveu Elias.<br />

Enquanto o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> significar o tempo enfrentou este processo, abarcou<br />

discussões fi<strong>lo</strong>sóficas, <strong>de</strong>scobertas científicas, <strong>de</strong>senvolvimentos tecnológicos,<br />

transformações políticas. Com o advento da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> o tempo também se<br />

comercializou: se na Ida<strong>de</strong> Média era pensado como dom divino, o processo<br />

civilizatório impôs ao tempo a noção <strong>de</strong> remuneração, e ungiu o relógio como<br />

símbo<strong>lo</strong> <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> pensar o mundo orientada pela quantificação, precisão e<br />

estandardização. Novas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medir o tempo são criadas, é preciso pensar<br />

em partículas <strong>de</strong> segundo, tornar os processos produtivos cada vez mais exatos,<br />

repetitivos e padronizados, o ritmo da vida humana nas socieda<strong>de</strong>s que vivenciam<br />

tal processo se <strong>de</strong>termina cada vez mais pe<strong>lo</strong> relógio, e a noção <strong>de</strong> tempo se<br />

complexifica e se abstrativa <strong>de</strong> forma acelerada. Com o advento da informatização e<br />

da <strong>digital</strong>ização, essa noção adquire contornos mais complexos, a tradução temporal<br />

dos processos humanos torna-se ainda mais elaborada. Como problematizar a<br />

temporalida<strong>de</strong> <strong>digital</strong>? O que ela revela acerca do atual estágio do processo<br />

civilizador, que conflitos ela abarca, que cic<strong>lo</strong>s ela preten<strong>de</strong> organizar? Como a<br />

noção <strong>de</strong> tempo <strong>digital</strong> po<strong>de</strong> ser utilizada para pensar as relações sociais da<br />

contemporaneida<strong>de</strong>?<br />

Pensar o tempo, sob o olhar antropológico também é pensar o tempo da narrativa,<br />

da memória, o tempo ritual, o tempo mítico. Em meu trabalho <strong>de</strong> campo, na qual,<br />

nos últimos três anos, etnografei sites racistas, revisionistas e revisionistas, <strong>de</strong>tectei<br />

a importância que expressões, imagens e discursos relacionados ao universo<br />

simbólico do tempo assumem em meus objetos <strong>de</strong> pesquisa. Como a noção <strong>de</strong><br />

tempo nos sites racistas e as imagens míticas que se constroem em torno da

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