Etnografías de lo digital - UNED
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III Congreso Online - Observatorio para la Cibersociedad<br />
‘Conocimiento abierto, Sociedad libre’<br />
56<br />
<strong>Etnografías</strong> <strong>de</strong> <strong>lo</strong> Digital<br />
Grupo <strong>de</strong> trabajo<br />
relações diversificadas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (cooperação, implicação, autoritarismo,<br />
paternalismo, etc.) com óbvias implicações éticas e políticas.<br />
A reflexivida<strong>de</strong> social não tem a ver apenas com o objecto <strong>de</strong> estudo mas também<br />
com a própria prática do trabalho antropológico, “a antropo<strong>lo</strong>gia é uma parte <strong>de</strong>la<br />
própria. Qualquer afirmação acerca da cultura é também uma afirmação sobre a<br />
antropo<strong>lo</strong>gia” (Crick citado por Davies, 1999: 9). O “também”, acima referido, revela<br />
que o significado mais completo da reflexivida<strong>de</strong> na investigação é conseguido<br />
quando for abandonado, e se <strong>de</strong>monstrar que a investigação social é<br />
essencialmente sobre si própria. Como refere Kilani “o antropó<strong>lo</strong>go preten<strong>de</strong><br />
apren<strong>de</strong>r coisas sobre a socieda<strong>de</strong> em geral e sobre a sua em particular por meio<br />
das culturas que toma por objecto”.<br />
A antropo<strong>lo</strong>gia não existe em estado puro, isolado do seu próprio contexto. Seria<br />
paradoxal que a prática antropológica <strong>de</strong> situar as pessoas e os seus<br />
comportamentos, que estuda numa estrutura social, numa cultura, numa socieda<strong>de</strong><br />
ou num <strong>de</strong>terminado momento histórico, <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> se aplicar a si mesma. “Se a<br />
socieda<strong>de</strong> está na antropo<strong>lo</strong>gia, a antropo<strong>lo</strong>gia por sua vez está na socieda<strong>de</strong>” (Lévi-<br />
Strauss). Nasceu numa <strong>de</strong>terminada época e cultura, transformou-se profundamente<br />
com as mudanças sociais, interroga-se agora sobre as suas condições <strong>de</strong> produção.<br />
Os trabalhos dos antropó<strong>lo</strong>gos, qualquer que seja a forma da sua apresentação,<br />
informam-nos tanto sobre a socieda<strong>de</strong> do investigador, do observador, quanto sobre<br />
a socieda<strong>de</strong> do investigado, do observado.<br />
Situamos a reflexivida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> pesquisa ao interrogar-se sobre a valida<strong>de</strong><br />
dos métodos e sobre o questionamento teórico, referimo-<strong>lo</strong> como estratégia <strong>de</strong><br />
construção discursiva e textual e como processo social <strong>de</strong> apropriação dos<br />
resultados da pesquisa. Esta apropriação diferencia-se ao <strong>lo</strong>ngo do processo<br />
histórico e tem representações e eficácia diversificada quando se trata da etnografia<br />
ou da antropo<strong>lo</strong>gia como texto escrito, como filme, como media digitais (CD-ROMs,<br />
DVD, Internet, computador pessoal, realida<strong>de</strong>s virtuais). O filme parece superar<br />
algumas das limitações específicas da escrita – analfabetismo, diferenças<br />
linguísticas, incompreensão da retórica académica. As imagens ao funcionarem<br />
como processo referencial criam maior possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apropriação da<br />
representação etnográfica e antropológica mesmo que a retórica cinematográfica ou<br />
vi<strong>de</strong>ográfica não seja totalmente compreendida e crie condições para o<br />
questionamento a partir da evocação <strong>de</strong> saberes laterais do espectador e<br />
comunida<strong>de</strong>s representadas. Os filmes em antropo<strong>lo</strong>gia constituiem frequentemente<br />
marcas significativas da apropriação e <strong>de</strong> referenciação da representação histórica<br />
<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s que se diziam a-históricas porque nenhum documento as<br />
referenciava. Os media digitais religam a escrita e as imagens, proporcionam ao<br />
utilizador uma maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação, uma cultura da ve<strong>lo</strong>cida<strong>de</strong> e do fim<br />
das distâncias e uma apropriação interactiva que permite a navegação pela<br />
informação disponível, a utilização crítica, a criação <strong>de</strong> novas associações entre os<br />
dados (dados e realida<strong>de</strong>, dados e teorias), o acrescento <strong>de</strong> nova informação, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do que se <strong>de</strong>nominou inteligência colectiva - “comunida<strong>de</strong>s<br />
humanas que comunicam no seu seio, que se pensam a si próprias, partilhando e<br />
negociando permanentemente as suas relações e os seus contextos <strong>de</strong><br />
significações partilhadas” (Pierre Levy, 1997:242).<br />
Concluímos que a prática <strong>de</strong> pesquisa em antropo<strong>lo</strong>gia abrange uma intrínseca<br />
reflexivida<strong>de</strong> multifacetada sem se voltar <strong>de</strong> forma obsessiva para si própria; sugere