Etnografías de lo digital - UNED
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III Congreso Online - Observatorio para la Cibersociedad<br />
‘Conocimiento abierto, Sociedad libre’<br />
91<br />
<strong>Etnografías</strong> <strong>de</strong> <strong>lo</strong> Digital<br />
Grupo <strong>de</strong> trabajo<br />
Na segunda parte do presente texto, para problematizar as diversas questões que<br />
nos confrontam em uma etnografia do virtual pretendo problematizar as relações<br />
entre a prática etnográfica na realida<strong>de</strong> <strong>digital</strong> e as noções <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> que se<br />
operacionalizam nesta prática, e discutir dimensões da “cronopolítica” que<br />
i<strong>de</strong>ntifiquei durante minha pesquisa <strong>de</strong> campo. Este recorte se faz necessário, não<br />
apenas pe<strong>lo</strong> limites textuais <strong>de</strong>ste artigo, mas também para abordar um tema que<br />
consi<strong>de</strong>ro ouço exp<strong>lo</strong>rado na etnografia <strong>digital</strong>. As relações entre temporalida<strong>de</strong>s e<br />
etnografia foram peculiarmente discutidas por Johannes Fabian, em Time and the<br />
Other - How anthropo<strong>lo</strong>gy makes its objects, e <strong>de</strong>sejo revisitar algumas discussões<br />
<strong>de</strong>ste autor, e a partir <strong>de</strong>stas, pensar a prática etnográfica em meios midiáticos.<br />
Analisar aspectos éticos e políticos que emolduram a discussão <strong>de</strong> tempo no<br />
ciberespaço é anotar, ainda, dimensões econômicas (o tempo <strong>de</strong> acesso como<br />
custo), dinâmicas <strong>de</strong> aceleração (o tempo se reveste <strong>de</strong> uma aceleração que é ao<br />
mesmo tempo artefato cultural e produtor <strong>de</strong> sentidos) e, finalmente, a maneira<br />
peculiar <strong>de</strong> estruturação simbólica do sentido <strong>de</strong> presente, que po<strong>de</strong> ser apreendida<br />
em práticas etnográficas na WEB. Discutirei dimensões das cibertemporalida<strong>de</strong>s viii ,<br />
e para articula-las, valho-me, principalmente da idéia exposta por Jean Paul Sartre,<br />
em O Ser e o Nada: o tempo nasce com o homem. E é no humano, e nas<br />
<strong>digital</strong>izações <strong>de</strong> suas relações que frutificam cibertemporalida<strong>de</strong>s.<br />
Posteriormente, em um terceiro momento, discutirei como, para me aproximar <strong>de</strong>sse<br />
universo, <strong>de</strong>senvolvi uma metodo<strong>lo</strong>gia muito específica: era preciso associar o<br />
mo<strong>de</strong><strong>lo</strong> bricoleur <strong>de</strong> pesquisa qualitativa (DENZIN: 2003: 17), no qual se incorporava<br />
uma “varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas perspectivas” na qual se inclui o estruturalismo e análise<br />
do discurso, a uma forma <strong>de</strong> pesquisa que fosse capaz <strong>de</strong> assimilar características<br />
peculiares dos sites analisados, como códigos <strong>de</strong> Javascript ix , keywords x , e outras<br />
marcações do código-fonte xi . Um exemp<strong>lo</strong> do primeiro, é o evento, no qual um<br />
código <strong>de</strong> Javascript, gerava uma caixa <strong>de</strong> mensagem (NAr), aberta quando se<br />
tentava clicar com o botão direito do mouse em uma <strong>de</strong>terminada página. Surgia<br />
então, uma caixa <strong>de</strong> texto que exortava o internauta: “Não seja um ju<strong>de</strong>u! Crie seu<br />
próprio material”. Em tal caixa <strong>de</strong> texto, o ciberacismo utiliza recursos próprio do<br />
campo, como o código supracitado, para relacionar evento e representação. Se você<br />
tenta um “Ctrl+C”, você é associado a um ju<strong>de</strong>u, “o ju<strong>de</strong>u que copia, que rouba<br />
material alheio”(NA). As keywords, por sua vez eram utilizadas tanto para permitir<br />
que uma URL aparecesse no topo <strong>de</strong> um motor <strong>de</strong> busca (como o Google, por<br />
exemp<strong>lo</strong>), algumas vezes, como para dificultar o acesso a outros sites pe<strong>lo</strong> mesmo<br />
motor <strong>de</strong> busca, em outras ocasiões. A escolha <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados códigos para<br />
ocultar alguns links, alguns trechos do texto em maiúsculas, diversas imagens, as<br />
escolhas <strong>de</strong> cores dos sites, da tipografia nele inseridos são apenas alguns dos<br />
aspectos relevantes na etnografia, que precisavam ser “lidos”, juntamente com texto<br />
propriamente dito. O que os sites “faziam” era parte do que eles “diziam”. A<br />
metodo<strong>lo</strong>gia etnográfica precisava dar conta do dito e do feito, do arcabouço <strong>de</strong><br />
representações, va<strong>lo</strong>res e crenças, expresso nos sites por um léxico específico que<br />
coor<strong>de</strong>na relações <strong>de</strong> "inclusão e exclusão, distância e proximida<strong>de</strong> e associação e<br />
dissociação" xii , mas também <strong>de</strong> como cada URL pesquisada se valia dos recursos<br />
próprios do campo para articular essas relações.<br />
Finalmente, na última parte do presente trabalho, discuto algumas conclusões, em<br />
um diá<strong>lo</strong>go com a obra <strong>de</strong> Pierre Bourdieu, em particular, com seu conceito <strong>de</strong><br />
habitus.