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demo comunicação e cultura - Centro de Documentação e Pesquisa ...

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faz justiça ao conceito <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>mo</strong>cracia lingüística — <strong>de</strong> impor-se (ou<br />

recomendar-se), como português rádiotelevisivo padrão, uma pro-<br />

núncia compósita, resultante <strong>de</strong> características fonéticas <strong>de</strong> varieda-<br />

<strong>de</strong>s predominantemente sulistas. Na fala <strong>de</strong> apresentadores <strong>de</strong> tele-<br />

jornais nacionais é possível i<strong>de</strong>ntificar-se "sotaques" (para usarmos<br />

o termo conhecido pelo leigo) regionais, mas a realida<strong>de</strong> é que o<br />

português predominante (ou dominante, para um diagnóstico mais<br />

acurado) correspon<strong>de</strong> a uma adaptação ou uma aproximação <strong>de</strong> va-<br />

rieda<strong>de</strong>s ouvidas nos meios rádiotelevisivos do eixo Rio-São Paulo.<br />

Essa ficção, que po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>signar como português rádio-televi-<br />

sivo padrão do Brasil é muito mais uma imposição <strong>cultura</strong>l (e às<br />

vezes até mesmo empresarial: já ouvimos locutores recém-admitidos<br />

confessarem que precisam "a<strong>de</strong>quar" suas pronúncias para mante-<br />

rem seus empregos...) do que reflexo <strong>de</strong> uma política comunica-<br />

cional verda<strong>de</strong>iramente <strong><strong>de</strong>mo</strong>crática, como seria <strong>de</strong>sejável.<br />

Se o direito <strong>de</strong> fazer opções lingüísticas é o segundo mais im-<br />

portante dos direitos lingüísticos individuais (o da aquisição, ma-<br />

nutenção, preservação e cultivo da língua materna é o primeiro),<br />

<strong>de</strong>le <strong>de</strong>correria o direito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r usar a varieda<strong>de</strong> regional que o<br />

usuário, por sua vivência e educação lingüística, domine efetiva-<br />

mente. Por isso, caberia aos responsáveis pela política lingüística<br />

(comunicacional) dos meios <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong> <strong>de</strong> massa (no caso, re-<br />

ferentes ao Rádio e a Televisão), estudar, com objetivida<strong>de</strong>, o pro-<br />

blema <strong>de</strong> assegurar-se ao comunicador o exercício <strong>de</strong> seu direito lin-<br />

güístico individual.<br />

Atitu<strong>de</strong>s conservadoras a respeito dos usos <strong>de</strong> uma língua (na-<br />

cional) no Rádio e na TV po<strong>de</strong>m ser mudadas: há o exemplo da tra-<br />

dicionalíssima BBC que, a partir <strong>de</strong> meados <strong>de</strong>sta década, começou<br />

a acolher varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pronúncia que não a tradicionalmente con-<br />

sagrada (Received Pronunciation ou Inglês Falado Padrão), Assim,<br />

é possível ouvir-se pronúncias regionais em transmissões daquela em-<br />

presa britânica, evi<strong>de</strong>nciando-se um passo adiante em prol da <strong>de</strong>-<br />

mocratização lingüística.<br />

Cônscios <strong>de</strong> que a INTERCOM propugna por uma política justa<br />

e realista <strong>de</strong> funcionamento (e o aspecto lingüístico é crucial, pois<br />

marca fortemente nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o individual ao regional)<br />

dos meios <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong> rádiotelevisivos, servimo-nos <strong>de</strong>ste breve<br />

comentário para conclamar os interdisciplinaristas do país a rever-<br />

mos o problema por nós levantado. Um dia — não muito distante<br />

— quando nossos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes vivenciarem uma <strong><strong>de</strong>mo</strong>cracia plena<br />

(com as virtu<strong>de</strong>s dos <strong>de</strong>feitos que caracterizam esse sistema), o re-<br />

conhecimento dos direitos lingüísticos individuais e, particularmen-<br />

te, dos profissionais será uma realida<strong>de</strong>. Até lá, irmanemo-nos e num<br />

espirito <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> respeito mútuo, aju<strong><strong>de</strong>mo</strong>s construir nos-<br />

sa própria <strong><strong>de</strong>mo</strong>cracia lingüística, valorizando a diversida<strong>de</strong> cultu-<br />

ral e comunicacional (dos falares regionais). Saibamos, como sa-<br />

biamente lembrava Bilac, amar com fé e orgulho a terra em que<br />

nascemos e (acrescentemos) usar, com confiança e liberda<strong>de</strong>, a va-<br />

rieda<strong>de</strong> do português que herdamos.<br />

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