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demo comunicação e cultura - Centro de Documentação e Pesquisa ...

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RESENHAS<br />

Língua e Compromisso<br />

Histórico<br />

PINTO, Edith Pimentel — A<br />

Língua Escrita no Brasil.<br />

São Paulo, Editora Atica,<br />

1986, 80 pp.<br />

Próximos <strong>de</strong> uma nova reforma<br />

ortográfica, ou <strong>de</strong> mais uma con-<br />

cessão da língua chamada culta,<br />

que nos possibilitará escrever sem<br />

o uso <strong>de</strong> hifen e possivelmente<br />

grafar príncipe e ascendência, a<br />

mestra Edith propõe algo mais<br />

amplo e mais sério: as tramas<br />

da língua portuguesa no contexto<br />

<strong>cultura</strong>l do Brasil, entre a nor-<br />

mativicte<strong>de</strong> e a ampla gama <strong>de</strong> va-<br />

riações lingüísticas.<br />

Depois <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar os limites<br />

do seu trabalho, resultado <strong>de</strong> cur-<br />

sos homólogos dados na USP e<br />

tendo como referencial a língua li-<br />

terária, a autora esclarece ■— ou<br />

repete — que o nosso português<br />

não é nem dialeto e nem língua<br />

autônoma, mas sim um processo<br />

<strong>cultura</strong>l <strong>de</strong> diversificação. Aliás,<br />

pesquisas <strong>de</strong> opinião mostram que<br />

a média da população reafirma o<br />

acerto <strong>de</strong>ssa colocação e poucos<br />

se aventuram a consi<strong>de</strong>rar que nos<br />

comunicamos por meio da "lín-<br />

gua paulista", "mineira", "guara-<br />

ni", "dialeto brasileiro" etc. Nou-<br />

tras palavras, as consi<strong>de</strong>ráveis va-<br />

riações sócio-<strong>cultura</strong>is do nosso<br />

português não comprometem a es-<br />

trutura lingüística aclimatada na<br />

península e fruto das notáveis<br />

transformações do latim plebeu.<br />

Alguns momentos do seu traba-<br />

lho permitem a confluência dos<br />

excelentes estudos lingüísticos con-<br />

temporâneos, em que a consciên-<br />

cia <strong>de</strong> laborarmos em três níveis<br />

sociais: sistema/língua/fala <strong><strong>de</strong>mo</strong>-<br />

126<br />

cratiza as falas e discursos e ul-<br />

trapassa as querelas sobre a "me-<br />

lhor" língua e as besteiras a res-<br />

peito da "pureza" lingüística. Ti-<br />

véssemos a consciência dos níveis<br />

e, conseqüentemente, das neces-<br />

sárias variações sócio-<strong>cultura</strong>is,<br />

não teríamos presenciado as bri-<br />

gas da época parnasiano-pré-mo-<br />

<strong>de</strong>mista sobre os mo<strong>de</strong>los da lin-<br />

guagem e a exigência <strong>de</strong> submis-<br />

são, em cujo contexto até mesmo<br />

excelentes escritores são acusados<br />

<strong>de</strong> perigosos heterodoxos, antina-<br />

oonalistas.<br />

O que realmente aconteceu na<br />

história foi a eleição <strong>de</strong> certa nor-<br />

ma socialmente prestigiada, a cujos<br />

pés esperou-se a genuflexão <strong>de</strong> to-<br />

dos, inclusive dos migrantes, se-<br />

miletrados, pobres e estudantes<br />

<strong>de</strong> classes subalternas. Hoje, fe-<br />

lizmente, a consciência das varia-<br />

ções começa a penetrar a consciên-<br />

cia dos educadores.<br />

Especificamente sobre a língua li-<br />

terária, Edith Pimentel <strong>de</strong>staca a<br />

limitação da sua "liberda<strong>de</strong>". De<br />

fato, ela foi abrigando, em sua<br />

evolução, falas populares, tor-<br />

neios sintáticos, consi<strong>de</strong>rável vo-<br />

cabulário da mescla social brasi-<br />

leira. A princípio, o autor não<br />

assumia a fala do povo, apondo<br />

claramente a sua, culta, à do ou-<br />

tro, popular, como em Raul Pom-<br />

péia e Coelho Neto. Depois, consi-<br />

<strong>de</strong>rada a revolução mo<strong>de</strong>rnista, ele<br />

passa a assumir o discurso do ou-<br />

tro: refletindo o drama social por<br />

<strong>de</strong>ntro do veículo real dos signi-<br />

ficados. As novas formas do dis-<br />

curso, notadamente <strong>de</strong>ntro da<br />

evolução psicológica, favoreceram<br />

bastante a nova atitu<strong>de</strong>. A má-<br />

xima regionalida<strong>de</strong> aponta para a<br />

efetiva universalida<strong>de</strong>. Aí a gran-<br />

<strong>de</strong>za <strong>de</strong> Lins do Rego e Gracilia-<br />

no, bem como <strong>de</strong> Rulfo ou She-<br />

muel Agnon.

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