demo comunicação e cultura - Centro de Documentação e Pesquisa ...
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til discussão sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
étnica na antropologia, na sociologia e na psicologia. Aqui mesmo<br />
no Brasil, uma ainda pequena, mas fértil nova produção <strong>de</strong> pes-<br />
quisas e escritos sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, sobre o ethos <strong>de</strong> diferentes<br />
grupos e categorias <strong>de</strong> sujeitos <strong>cultura</strong>is no Brasil, tem renovado<br />
bastante a própria visão que temos do assunto.<br />
Mas, para não <strong>de</strong>ixar a pergunta sem uma resposta, eu diria<br />
que em absoluto não existe cientificamente uma "personalida<strong>de</strong> pa-<br />
drão do brasileiro". Existem várias, diferentes e até contrastantes<br />
disposições <strong>de</strong> conduta, <strong>de</strong> orientação do sentido da vida, <strong>de</strong> repre-<br />
sentação simbólica da realida<strong>de</strong>, que po<strong>de</strong>riam configurar diferentes<br />
"maneiras <strong>de</strong> ser", se quisermos, diversas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> segmentos<br />
sociais e <strong>cultura</strong>is <strong>de</strong> brasileiros e <strong>de</strong> outras pessoas no Brasil, como<br />
os nossos indígenas.<br />
INTERCOM — Como é que "elas" (as diversas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> segmen-<br />
tos sociais e <strong>cultura</strong>is <strong>de</strong> brasileiros) vêm se modificando com a<br />
presença dos meios <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong>?<br />
Prof. Carlos R. Brandão — Acho que esta pergunta po<strong>de</strong>ria ser res-<br />
pondida mais facilmente por vocês, especialistas em <strong>comunicação</strong>,<br />
do que por mim. O que eu po<strong>de</strong>ria dizer, com base em minhas pró-<br />
prias experiências <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> pesquisa, e com base em leituras e<br />
estudos, é que a presença e o incremento dos meios <strong>de</strong> comunica-<br />
ção sem dúvida alguma exercem alguma influência psicológica e cul-<br />
tural sobre as pessoas e sobre os grupos sociais. Quem seriamos e<br />
como seríamos sem a televisão em nossas vidas? Mas o que im-<br />
porta é que, em si mesmos, os meios <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong> pouco "mu-<br />
dam". O que muda é aquilo que se transforma no bojo das re<strong>de</strong>s<br />
e tramas <strong>de</strong> relações sociais e simbólicas entre pessoas, entre gru-<br />
pos <strong>de</strong> pessoas, entre classes e outros segmentos etários, sociais e<br />
étnicos. A influência dos meios <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong> se dá no interior<br />
<strong>de</strong> tais complexas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações <strong>cultura</strong>is entre sujeitos sociais,<br />
se dá através disto. Uma maneira simples <strong>de</strong> dizer isto é afirmar que<br />
as pessoas <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> rural mudam mais através do que<br />
falam e como se comunicam após a TV começar a chegar em suas<br />
casas e vidas, do que através da influência pura e simples <strong>de</strong> seus<br />
programas.<br />
De resto, parece que pequenos grupos espalhados por todo o<br />
pais possuem um po<strong>de</strong>r bastante maior <strong>de</strong> "fazer a cabeça" do que<br />
os meios <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong>. Nas comunida<strong>de</strong>s rurais <strong>de</strong> Goiás, Minas<br />
e São Paulo on<strong>de</strong> pesquiso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1968, pequenos grupos <strong>de</strong> "cren-<br />
tes" pentecostais produzem mais modificações <strong>de</strong> fato significativas<br />
no modo <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> se conduzir e <strong>de</strong> se representar, como pessoas e<br />
sujeitos sociais, do que todos os meios <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong>.<br />
Se alguma coisa muda em "nós", há <strong>de</strong> ser também por causa<br />
dos meios <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong>. Mas nada é antropologicamente mais in-<br />
<strong>de</strong>vido e errado do que isolá-los ou, pior ainda, isolar um <strong>de</strong> tais<br />
meios, e procurar <strong>de</strong>terminar os efeitos diretos <strong>de</strong>les ou <strong>de</strong>le sobre<br />
as mudanças <strong>cultura</strong>is no país. Porque eles são também parte das<br />
re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações que mudam e se modificam. Que os transformam<br />
continuamente, para que eles, por causa disto, possam participar do<br />
complexissimo jogo simbólico do que "muda" e do que "permanece"<br />
em cada um <strong>de</strong> nós, em nossas <strong>cultura</strong>s.<br />
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