demo comunicação e cultura - Centro de Documentação e Pesquisa ...

verdadeiros objetivos da noticia, em outras palavras, são os verda-
deiros atores do teatro.
Tal preocupação se deriva do fato de que, apesar de discutirmos
Comunicação para o Desenvolvimento, o mesmo não se verifica na
vida prática, isto é, que por exemplo, no caso que hoje nos ocupa,
um assunto tão "ultrapassado", como é o caso da Reforma Agrária,
que deveria, do ponto de vista capitalista, ter sido superado há mui-
to tempo, apresenta-se num nivel inverso ao esperado, sob a pers-
pectiva do Desenvolvimento. * Ou seja, que a classe dominante to-
maria a dianteira, e utilizando o aparelho estatal, promoveria as
mudanças necessárias à modernização do sistema, não parece estar
se realizando no contexto latino-americano.
A Reforma Agrária, o avanço na tecnologia das comunicações, a
formação da "opinião pública" etc, longe de terem sido elementos
de modernização e desenvolvimento na América Latina dos últimos
50 anos, tem sido fonte de rumores e incitações sob a guerra fria,
separação de grupos, e até revoluções.
Pelas noticias coletadas para este estudo, o que se verifica cla-
ramente são as direções que tomam os diversos grupos envolvidos
em relação ao processo, e que têm muito a ver com a realidade na-
cional. Realidade essa, que ao nível da América Latina tem se obser-
vado, que desde a "Aliança para o Progresso", com vistas ao desen-
volvimento, não temos progredido muito. Temos a maior divida ex-
terna do mundo, vinte e cinco anos de militarização social, quase uma
década de revolução centro-americana, e a continuação da luta ar-
mada na Colômbia, no Peru, no Chile...
Nesse contexto, mesmo que discutamos a respeito de novas tec-
nologias em comunicação, das negociações inter-setoriais das indús-
trias da comunicação, o certo é, de que na vida objetiva dos ho-
mens, o sistema de relações sociais de produção continua sendo o
mesmo, em outras palavras. Mudar o microfone ou dar maior co-
lorido a um filme não significa que isso tenha repercutido no de-
senvolvimento humano em geral, e muito menos, que tenha muda-
do o discurso dos comunicadores. Muda a decoração, mas não mu-
da a estrutura, e nessas condições, que tipo de desenvolvimento é
esse? Não pretendemos, de maneira nenhuma, achar que podemos fa-
lar sobre comunicação e desenvolvimento, de uma maneira neutra,
como se esse suposto desenvolvimento estivesse existindo, ou seja,
que avançando os meios de comunicação (como de fato estão), avan-
çaria no mesmo sentido o contexto das relações sociais. E de fato,
avançam, mas em que sentido? Toda a exploração e a dependência
da América Latina em relação ao avanço tecnológico, denunciado por
alguns pesquisadores, é desenvolvimento?
Nosso estudo (de caso), que mais do que se tratar de uma teo-
rização busca ser o reflexo (cientifizado) da experiência objetiva, ten-
ta colocar em discussão, de que enquanto achamos que os meios de
comunicação avançam, supostamente com benefícios para as cole-
tividades (entendam-se aqui, todas as classes sociais), a realidade
é de que os mesmos continuam a exercer sua atividade baseados na
72
Sobre isso, pode-se consultar o Informativo da FAO, baseado no
relatório da IX Conferência Mundial sobre Desenvolvimento e Re-
forma Agrária. San Salvador, ISTA-FAO, 1979.