demo comunicação e cultura - Centro de Documentação e Pesquisa ...
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incentivo ao mesmo tempo". Entre<br />
os temas predominam: entreteni-<br />
mento (10%), saú<strong>de</strong> (4,7%), reli-<br />
gião (4,2%), esportes (1,8%), esco-<br />
la (1,7%), anúncios <strong>de</strong> produtos<br />
(1,4%), política partidária (1,2%)<br />
e as lutas femininas com 1,1% do<br />
espaço total.<br />
Um outro prisma analisado diz<br />
respeito à violência, que ocupa<br />
13,3% do espaço dos jornais <strong>de</strong><br />
favelas pesquisadas. Sendo seus<br />
autores, por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importân-<br />
cia, os Governos/Órgãos Públicos,<br />
Empresas/Proprietários, Forças Po-<br />
liciais e Moradores das Favelas.<br />
Os jornais <strong>de</strong> favela não são<br />
mera reprodução mal feita <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s jornais, como acreditam<br />
alguns. Pelo contrário, eles regis-<br />
tram o outro lado da história, o<br />
lado vivido por setores das clas-<br />
ses trabalhadoras empobrecidas.<br />
Como diz Geraldo Mello Mourão<br />
na apresentação do livro, "a aná-<br />
lise da imprensa dos habitantes das<br />
favelas da zona sul (...) prova<br />
que o povo. esse povo negro/bran-<br />
co/mulato/mestiço-nor<strong>de</strong>stino não<br />
silenciou, tem voz, não é uma mas-<br />
sa amorfa, moldada e reduzida<br />
à impotência <strong>cultura</strong>l pela lingua-<br />
gem uniformizadora dos meios <strong>de</strong><br />
<strong>comunicação</strong>".<br />
A população das favelas é com-<br />
posta basicamente pela população<br />
local, urbana e rural, empobreci-<br />
da, migrantes vindos <strong>de</strong> Minas Ge-<br />
rais, Espirito Santo e principal-<br />
mente do Nor<strong>de</strong>ste. De 1950 a<br />
1983 a população do município do<br />
Rio cresceu 114% e a quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> favelas subiu 216%. Por outro<br />
lado, a concepção <strong>de</strong> favelado en-<br />
quanto malfeitor ou preguiçoso<br />
140<br />
não correspon<strong>de</strong> à realida<strong>de</strong>. Quem<br />
vive nas favelas são trabalhadores<br />
e suas famílias empobrecidas, ape-<br />
sar <strong>de</strong> existirem também ladrões<br />
e preguiçosos como existem tam-<br />
bém em outras partes da cida<strong>de</strong>.<br />
É nesse contexto que, por mais<br />
que a indústria <strong>cultura</strong>l se <strong>de</strong>sen-<br />
volva, convivem o Samba, o For-<br />
ró, a Folia dos Reis e a Capoeira.<br />
A imprensa <strong>de</strong> favela, se olhada<br />
isoladamente, po<strong>de</strong>ria significar<br />
pouco po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong> ten-<br />
do em vista as pequenas tiragens,<br />
periodicida<strong>de</strong>s longas, dificulda<strong>de</strong>s<br />
na distribuição etc. No entapto<br />
ela é um instrumento <strong>de</strong> comuni-<br />
cação entre vários outros, como: o<br />
leva-e-traz através das crianças,<br />
que o autor diz ser uma re<strong>de</strong> efi-<br />
caz e rápida <strong>de</strong> informação, o al-<br />
to-falante localizado num ponto<br />
central e utilizado pela Associação<br />
<strong>de</strong> Moradores, o mural, o comu-<br />
nicado pregado nas contas <strong>de</strong> luz<br />
e o teatro.<br />
Jornalismo Popular nas Favelas<br />
Cariocas é um estudo que tem o<br />
mérito, entre outros, <strong>de</strong> documen-<br />
tar e sistematizar a história <strong>de</strong><br />
um tipo <strong>de</strong> jornalismo feito por<br />
setores das classes trabalhadoras<br />
urbanas no Brasil. Uma biblio-<br />
grafia que estava faltando que,<br />
a'ém <strong>de</strong> medir os espaços impres-<br />
sos <strong>de</strong> jornais <strong>de</strong> favelas, apanha<br />
o seu conteúdo, o processo <strong>de</strong> pro-<br />
dução e distribuição e o contexto<br />
histórico que surgem, crescem e<br />
<strong>de</strong>clinam.<br />
Cicília Aí. Krohling Peruzzo<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />
Espírito Santo