demo comunicação e cultura - Centro de Documentação e Pesquisa ...
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mo<strong>de</strong>rados como José Bonifácio ou aos restauradores como Viscon-<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cairu.<br />
Pouca coisa (e esparsa) foi escrita até hoje sobre Cipriano. Um<br />
historiador do século passado, o folclorista Mello <strong>de</strong> Moraes, tra-<br />
çou-lhe rápido esboço biográfico. 1 O também folclorista Luís da<br />
Câmara Cascudo lhe <strong>de</strong>dicou um ensaio, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>teve nos aspec-<br />
tos pitorescos, embora registrasse que Barata era "jornalista inti-<br />
morato, arrojado, <strong>de</strong>stemeroso". 2 Depois foi Hélio Viana, realizan-<br />
do amplo levantamento factual e opinando: "De todos os jornalistas<br />
brasileiros o que melhor mereceu o título <strong>de</strong> agitador popular foi,<br />
sem dúvida, Cipriano Barata". 3 O matiz conservador do pensa-<br />
mento <strong>de</strong> Gustavo Barroso fez com que ele <strong>de</strong>tectasse um fenômeno<br />
importante: "Quem aplicou em primeiro lugar na nossa Pátria o<br />
nome <strong>de</strong> Sentinela nos jornais <strong>de</strong>sabusados <strong>de</strong> combate ao regime<br />
vigente, verda<strong>de</strong>iros panfletos, foi o dr. Cipriano José Barata <strong>de</strong> Al-<br />
meida". ,í<br />
Fernando Segismundo, ao contrário, valorizava a "pugnacida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>sprendimento, amor ao povo e fervor patriótico" do panfletário<br />
baiano, a quem ele viu da seguinte maneira: "redigindo jornais in-<br />
flamados, sua passagem notabiliza-se no cenário nacional". 5 Outros,<br />
como Gondim da Fonseca, referiam-se ao "famosíssimo jornalista<br />
<strong>de</strong>scomedido". 6 Caio Prado Jr., para valorizá-lo, falava que Cipria-<br />
no Barata merecia "sem concorrência, o título <strong>de</strong> maior jornalista<br />
do povo que o Brasil se honra <strong>de</strong> contar entre seus filhos".'<br />
Todas as observações feitas até então eram predominantemente<br />
simpáticas ou antipáticas ao personagem, mas poucas aprofundavam<br />
o conhecimento das características do jornalismo <strong>de</strong> Cipriano Bara-<br />
ta. Nelson Werneck Sodré abriu caminhos, embora ainda como re-<br />
ferência: "Barata, pioneiro da imprensa libertária no Brasil, tem<br />
sido omitido, diminuído e no mínimo ridicularizado pela historiogra-<br />
fia oficial brasileira: é uma <strong>de</strong> suas maiores vítimas. Sua influên-<br />
cia foi extensa e profunda: outras Sentinelas apareceram, imitando<br />
a sua." 8<br />
Em nossos estudos sobre o assunto, iniciamos a abordagem <strong>de</strong><br />
alguns aspectos que, até então, eram pouco conhecidos. Em primei-<br />
ro lugar, verificamos o conceito que Cipriano tinha sobre a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> imprensa, talvez a primeira formulação feita no Brasil com tal<br />
nível <strong>de</strong> vigor, clareza e complexida<strong>de</strong> — a ponto <strong>de</strong> levar seu au-<br />
tor, paradoxalmente, à prisão. Vimos ainda que Barata ensaiou<br />
vários estilos jornalísticos, embrionários na época: da sátira ao jor-<br />
nalismo político, econômico e filosófico; da informação sobre a vida<br />
cotidiana à doutrinação política; suplemento literário, correspondên-<br />
cia <strong>de</strong> guerra, noticiário internacional, acompanhando os trabalhos<br />
da primeira Constituinte, análises sociais sobre a aristocracia, fofo-<br />
cas sobre os figurões da época — não há dúvida que era um jornal<br />
atraente e polêmico o <strong>de</strong> Cipriano. Sua linguagem escrita, fluente,<br />
se aproximava da oralida<strong>de</strong>, do gosto das narrativas, da palavra emcn<br />
cionada e veemente, o que, certamente, permitia uma aproximação<br />
com as camadas populares emergentes.<br />
Além do mais, Barata inaugurou uma difícil forma <strong>de</strong> comuni-<br />
cação: o jornalismo do cárcere. Outro fenômeno interessante foi<br />
a formação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>comunicação</strong>, englobando <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
jornais em todo o Brasil, que foi criada a partir <strong>de</strong> sua Sentinela da<br />
Liberda<strong>de</strong>. Uns até repetiam o mesmo título e muitos giravam na<br />
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