demo comunicação e cultura - Centro de Documentação e Pesquisa ...
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2.2. Tratamento jornalístico<br />
A cobertura científica realizada pelos jornais diários <strong>de</strong> São Paulo<br />
e Rio <strong>de</strong> Janeiro não tem caráter autônomo, no sentido <strong>de</strong> ocupar<br />
um espaço próprio e <strong>de</strong>finido no conjunto da superfície impressa.<br />
As informações relativas aos acontecimentos configurados no âmbito<br />
da ciência e da tecnologia encontram-se dispersas e atomizadas nas<br />
páginas <strong>de</strong> cada jornal, ressentindo-se portanto daquela coor<strong>de</strong>nação<br />
editorial reivindicada por Magali Izuwa. 9<br />
As unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> informação que aparecem articuladas numa "cober-<br />
tura setorial específica" perfazem a média <strong>de</strong> 1/5 das edições ana-<br />
lisadas, sendo mais expressiva no Rio <strong>de</strong> Janeiro (29 0 /o) do que em<br />
São Paulo (24%). Essa diferença entre as duas cida<strong>de</strong>s é mais pro-<br />
funda do que parece à primeira vista. Apesar <strong>de</strong> todos os jornais<br />
cariocas possuírem espaços reservados para a cobertura científica,<br />
trata-se <strong>de</strong> uma superfície minoritária em relação à ocorrência <strong>de</strong><br />
matérias sobre ciência e tecnologia nas <strong>de</strong>mais páginas. Enquanto<br />
Isso, em São Paulo, on<strong>de</strong> apenas três jornais — Folha <strong>de</strong> S. Paulo,<br />
Folha da Tar<strong>de</strong> e Diário Popular — possuem seções para a infor-<br />
mação científica, nota-se que tais espaços são privilegiados, pois quan-<br />
titativamente superam as outras matérias sobre o mesmo assunto<br />
que aparecem no corpo <strong>de</strong> cada diário.<br />
Po<strong>de</strong>-se concluir, portanto, que a política editorial dos jornais<br />
paulistas é mais bem articulada no que tange ao material científico,<br />
não apenas pela existência <strong>de</strong> uma cobertura setorial que concentra<br />
os textos <strong>de</strong>ssa rubrica em meta<strong>de</strong> da imprensa cotidiana, mas tam-<br />
bém pela presença significativa <strong>de</strong> matérias sobre essa temática nos<br />
suplementos semanais, totalizando 20% da superfície impressa. Se<br />
somarmos a cobertura setorial com a cobertura cientifica localizada<br />
nos suplementos, encontraremos 44% <strong>de</strong>ssa rubrica em São Paulo e<br />
33% no Rio <strong>de</strong> Janeiro. O volume das matérias cientificas nos su-<br />
plementos paulistas é bem maior que no carioca — O Estado <strong>de</strong> S.<br />
Paulo (29%), Folha <strong>de</strong> S. Paulo (29%) e Jornal do Brasil (16%).<br />
Outra diferenciação notada entre os jornais do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
e <strong>de</strong> São Paulo diz respeito à angulagem das matérias. A imprensa<br />
paulista adota um padrão narrativo convencional na cobertura cien-<br />
tífica, primando pela <strong>de</strong>scrição objetiva dos fatos científicos e quase<br />
não admitindo o tratamento sensacionalista. Uma exceção nesse pa-<br />
norama é o jornal Notícias Populares, on<strong>de</strong> predominam matérias<br />
científicas <strong>de</strong> cunho sensacionalista. Apesar <strong>de</strong> os jornais cariocas<br />
também revelarem um tratamento narrativo que privilegia a narra-<br />
ção convencional, nota-se uma maior propensão para o <strong>de</strong>staque <strong>de</strong><br />
ângulos pitorescos e sensacionais dos acontecimentos sobre ciência<br />
e tecnologia: quatro dos seis jornais recorrem a esse tipo <strong>de</strong> meca-<br />
nismo, sendo mais evi<strong>de</strong>nte nos diários <strong>de</strong> cunho popular — O Povo<br />
(66%) e O Dia (47%) — do que em O Globo (39%).<br />
Essa tendência da imprensa carioca para cultivar uma angula-<br />
gem sensacionalista em 2/5 da cobertura científica certamente ex-<br />
plica a maior, a predisposição mais acentuada que era São Paulo<br />
para veicular tais informações na primeira página, causando impac-<br />
to junto aos leitores. Ela é mais expressiva nos jornais O Dia (9%)<br />
e O Gtobo (7%).<br />
Se a imprensa paulista evita estimular o sensacionalismo jorna-<br />
lístico, ela não hesita era dar guarita à "<strong>de</strong>núncia acadêmica", ou se-<br />
ja, abrigar em suas páginas as reivindicações originárias <strong>de</strong> corpo-<br />
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