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Portugal, primeiro a inovar, último a formar Luís Humberto Marcos * Portugal foi um dos primeiros países onde a prodigiosa inven- ção de Gutenberg começou a ser usada e hoje é o último pais euro- peu na formação de jornalistas. A tipografia foi introduzida, entre nós, primeiro em Leiria, depois em Lisboa, poucos anos após o invento de Johann Gutenberg que, com a descoberta dos caracteres móveis, haveria de revolucionar o mundo. Há mesmo quem admita que Leiria terá sido a quarta cidade da Europa a aplicar o famoso invento, em 1466. De resto, nesta época florescente em que "dávamos novos mun- dos ao mundo", até mesmo uma das primeiras publicações européias fala dos feitos portugueses. Trata-se da "Cópia do novo diário das Terras Desconhecidas", que se publica em 1508 na pequena cidade alemã de Augusburg. Relata os nossos descobrimentos e contém uma xilogravura com o escudo das armas portuguesas. Mas se fomos pioneiros na imprensa, somos lanternas-vermelhas na formação jornalística. Mais de 500 anos depois de tal pioneiris- mo, somos o último país da Europa onde é criada uma escola de formação de jornalistas. E somos o último com esta singular agra- vante: a de termos sido o berço da primeira escola de Jornalismo européia. Este fato é quase desconhecido, mas é verdadeiro. Em 1898, realizou-se em Lisboa o V Congresso Internacional da Imprensa, do qual sairia a resolução de criar escolas de formação de jornalistas. Autor da tese, um nome grande do jornalismo fran- cês: Albert Bataílle. Dizia ele em pleno tempo da época de ouro da imprensa: "Com o aperfeiçoamento das máquinas de imprimir, com o telégrafo e o telefone, com a transformação do espírito pú- blico, cada vez mais ávido de ser informado, uma metamorfose se operou no jornalismo: a polêmica foi relegada para segundo plano e a informação passou para primeiro. No dia em que essa trans- * Presidente do Centro de Formação de Jornalistas e Subdiretor da Es- cola Superior de Jornalismo do Porto, Portugal. 115
formação se verificou, o jornalismo converteu-se numa carreira; é preciso deixar de dizer que a nossa profissão recruta os seus adep- tos entre os desenganados de todas as carreiras; para chegar ao re- crutamento regular, à renovação normal de pessoal da imprensa, é preciso organizar os quadros de reserva e tornar menos penosos os anos de aprendizagem aos jovens que se sintam com vocação; e para isso é necessário que a educação geral se complete com a educação profissional". Um ano depois do Congresso de Lisboa, em novembro de 1899, criava-se, de fato, em Paris, aquela que é tida como a primeira escola de Jornalismo da Europa. Os fundadores são: Albert Bataille e Périvier, diretor do Le Figaro. Foi necessário esperar 84 anos para que surgisse, não em Lisboa, mas no Porto, a primeira escola portuguesa, emanação da vontade e determinação dos jornalistas que em abril de 1982 deram vida ao II Encontro de Jornalistas do Norte. Por quê tão longa espera? "Pela simples e clara razão de que, falsamente baseadas num critério estreito, as sucessivas aristocracias mentais portuguesas, ao passo que impuseram à dignificação, uma a uma, todas as restantes profissões liberais, sem se esquecerem da Agronomia, da Economia e das Finanças, dando-lhes a possibilidade de um titulo acadêmico com a criação de cursos de ensino superior adequados, relegaram a um incompreensível ostracismo a atividade espiritualmente mais de- licada que numa nação pode existir — a orientação da opinião pú- blica ..." Esta justificativa de Luís de Quadros, "um homem apaixonado pela profissão para que Deus o fadou", dada em 1949, mantém-se prati- camente atual. Acrescento que não foi por falta do desejo e da vontade dos jornalistas que não se avançou com a sua formação espe- cifica. Essa vontade explicitou-se pelo menos desde 1941, precisamente alguns anos antes da fase de multiplicação das escolas de Jor- nalismo por muitas cidades da Europa e Américas. É deste ano a proposta do Sindicato dos Jornalistas para a criação de um "curso de formação jornalística", de dois anos, com o objetivo "de promo- ver, de maneira decisiva, a valorização profissional dos jornalistas e elevar o seu nível de cultura até os limites exigidos pela missão que desempenham na vida portuguesa". No centro dos bloqueamentos e resistências, de vários tipos, está o regime do "orgulhosamente só", seráfico e salazarento, que pre- feria papagaios e marionetas a jornalistas devidamente preparados para responderem aos desafios da sociedade moderna. Ao contrário do que sucedia na Espanha, onde precisamente em 1941 se criava a Escola Oficial de Jornalismo, não vai adiante a ini- ciativa do Sindicato dos Jornalistas portugueses. Mais tarde não fal- taram os apelos, como o de Luís de Quadros: "...parece-nos urgen- te que no nosso país, hoje em pleno ressurgimento material e moral, se encare de vez, e a sério, a fundação de uma escola oficial de Jor- nalismo integrada na Universidade Técnica". Com este esconjuro: "sem fazer caso de objeções maldosas e de rotineiras cabotinices em- poleiradas em triunfos de circunstância". Insistia Luís de Quadros: "Que se olhe somente ao bem da Nação — e nada mais!" Salazar fechou os olhos e Caetano se os abriu, não se viu. E os projetos — houve vários — foram ficando na gaveta do esqueci- mento. Por tudo isto, conforme dizia a 30 e poucos anos Luís de 116
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