Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br
Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br
Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ousaram investi-lo; mas foram de cobardia feroz. Atearam fogo à cobertura de<<strong>br</strong> />
folhas.<<strong>br</strong> />
O efeito foi pronto. Mal podendo respirar no a<strong>br</strong>igo em chamas, Miguel<<strong>br</strong> />
Carlos resolve abandoná-lo. Derrama to<strong>da</strong> a água de um pote na direção do<<strong>br</strong> />
fundo <strong>da</strong> choupana, apagando momentaneamente as <strong>br</strong>asas, e, saltando por<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o cadáver <strong>da</strong> irmã, arroja-se, de clavina so<strong>br</strong>aça<strong>da</strong> e parnaíba em punho,<<strong>br</strong> />
contra o círculo assaltante. Rompe-o e afun<strong>da</strong> na caatinga. . .<<strong>br</strong> />
Tempos depois um dos Araújos contratou casamento <strong>com</strong> a filha de rico<<strong>br</strong> />
criador de Tapaiara; e no dia <strong>da</strong>s núpcias, já perto <strong>da</strong> igreja, tombou varado por<<strong>br</strong> />
uma bala, entre o alarma dos convivas e o desespero <strong>da</strong> noiva desditosa.<<strong>br</strong> />
Velava, inextinguivelmente, a vingança do sertanejo...<<strong>br</strong> />
Este tinha, agora, uma sócia no rancor justificado e fundo, outra irmã,<<strong>br</strong> />
Helena Maciel, a "Nêmesis <strong>da</strong> família", conforme o dizer do cronista referido. A<<strong>br</strong> />
sua vi<strong>da</strong> transcorria em lances perigosos, muitos dos quais desconhecidos<<strong>br</strong> />
senão fabulados pela imaginação fecun<strong>da</strong> dos matutos. O certo, porém, é que,<<strong>br</strong> />
desfazendo a urdidura de to<strong>da</strong>s as tocaias, não raro lhe caiu sob a faca o<<strong>br</strong> />
espião incauto que o rastreava, em Quixeramobim.<<strong>br</strong> />
Diz a narrativa a que acima nos reportamos:<<strong>br</strong> />
"Parece que Miguel Carlos tinha ali protetores que o garantiam. O que é<<strong>br</strong> />
certo é que, não obstante a sorte tivera aquele seu apaniguado, costumava<<strong>br</strong> />
estar na vila.<<strong>br</strong> />
Uma noite, estando à porta <strong>da</strong> loja de Manuel Procópio de Freitas, viu<<strong>br</strong> />
entrar um indivíduo, que procurava <strong>com</strong>prar aguardente. Dando-o <strong>com</strong>o espião,<<strong>br</strong> />
falou em matá-lo ali mesmo, mas, sendo detido pelo dono <strong>da</strong> casa, tratou de<<strong>br</strong> />
a<strong>com</strong>panhar o suspeito, e o matou, à faca, ao sair <strong>da</strong> vila, no riacho <strong>da</strong> Palha.<<strong>br</strong> />
Uma manhã, finalmente, saiu <strong>da</strong> casa de Antônio Caetano de Oliveira,<<strong>br</strong> />
casado <strong>com</strong> uma sua parenta, e foi banhar-se no rio, que corre por trás dessa<<strong>br</strong> />
casa, situa<strong>da</strong> quase no extremo <strong>da</strong> praça principal <strong>da</strong> vila, junto a garganta que<<strong>br</strong> />
conduz a pequena praça Cotovelo. Nos fundos <strong>da</strong> casa indica<strong>da</strong> era então a<<strong>br</strong> />
embocadura do riacho <strong>da</strong> Palha, que em forma quase circular contornava<<strong>br</strong> />
aquela praça, e de inverno constituía uma cinta lindíssima de águas<<strong>br</strong> />
represa<strong>da</strong>s. Miguel Carlos estava já despido, <strong>com</strong>o muitos <strong>com</strong>panheiros,<<strong>br</strong> />
quando surgiu um grupo de inimigos, que o esperavam acocorados por entre o<<strong>br</strong> />
denso "mata-pasto". Estranhos e parentes de Miguel Carlos, tomando as<<strong>br</strong> />
roupas depostas na areia, e vestindo-as ao mesmo tempo que corriam,<<strong>br</strong> />
puseram-se em fuga. Em ceroulas somente, e <strong>com</strong> a sua faca em punho, ele<<strong>br</strong> />
correu também na direção dos fundos de uma casa, que quase enfrenta <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
embocadura do riacho <strong>da</strong> Palha; casa na qual morava em 1845 Manuel<<strong>br</strong> />
Francisco <strong>da</strong> Costa. Miguel Carlos chegou a a<strong>br</strong>ir o portão do quintal, de varas,<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> casa indica<strong>da</strong>; mas, quando quis fechá-lo, foi prostrado por um tiro, partido<<strong>br</strong> />
do séquito que o perseguia. Outros dizem que isto se dera quando ele passava<<strong>br</strong> />
pelo buraco <strong>da</strong> cerca de uma vazante que havia por ali. Agonizava, caído, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
a sua faca na mão, quando Manuel de Araújo, chefe do bando, irmão do noivo<<strong>br</strong> />
outrora assassinado, pegando-o por uma perna, lhe cravou uma faca.