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Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br

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Não se podiam exigir melhores preliminares à missão.<<strong>br</strong> />

Aquele agasalho era meia vitória. Mas coube ao missionário anulá-la,<<strong>br</strong> />

desajeita<strong>da</strong>mente. Ao atingirem o coro, <strong>com</strong>o se achassem um tanto afastados<<strong>br</strong> />

do grosso dos fiéis, que os seguiam a distância, pareceu-lhe que a<<strong>br</strong> />

oportuni<strong>da</strong>de era de moldo para interpelação decisiva.<<strong>br</strong> />

Era uma precipitação, so<strong>br</strong>e inútil, contraproducente. O insucesso<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>eveio, inevitável.<<strong>br</strong> />

. . . " aproveitei a ocasião de estarmos quase a sós e disse-lhe que o fim a<<strong>br</strong> />

que eu ia era todo de paz e que assim muito estranhava só enxergar ali<<strong>br</strong> />

homens armados e não podia deixar de condenar que se reunissem em lugar<<strong>br</strong> />

tão po<strong>br</strong>e tantas famílias entregues à ociosi<strong>da</strong>de, num abandono e misérias<<strong>br</strong> />

tais que diariamente se <strong>da</strong>vam de oito a nove óbitos. Por isto, de ordem, e em<<strong>br</strong> />

nome do sr. arcebispo, ia a<strong>br</strong>ir uma santa missão e aconselhar o povo a<<strong>br</strong> />

dispersar-se e a voltar aos lares e ao trabalho no interesse de ca<strong>da</strong> um e para<<strong>br</strong> />

o bem geral."<<strong>br</strong> />

Esta intransigência, este mal sopitado assomo, partindo a finura diplomática<<strong>br</strong> />

nas arestas rígi<strong>da</strong>s do dogma, não teria, certo, o beneplácito de S. Gregório - o<<strong>br</strong> />

Grande - a quem não escan<strong>da</strong>lizaram os ritos bárbaros dos saxônios; e foi um<<strong>br</strong> />

desafio imprudente.<<strong>br</strong> />

"Enquanto isto dizia, a capela e o coro enchiam-se de gente e ain<strong>da</strong> não<<strong>br</strong> />

acabara eu de falar e já eles a uma voz clamavam:<<strong>br</strong> />

Nós queremos a<strong>com</strong>panhar o nosso Conselheiro !''<<strong>br</strong> />

Era a desordem iminente. So<strong>br</strong>esteve-a, porém, a placidez admirável, a<<strong>br</strong> />

mansuetude - por que não dizer cristã ? - de Antônio Conselheiro. Que o<<strong>br</strong> />

próprio missionário fale:<<strong>br</strong> />

"Este os fez calar, e voltando-se para mim disse:<<strong>br</strong> />

- É para minha guar<strong>da</strong> que tenho <strong>com</strong>igo estes homens armados, porque V.<<strong>br</strong> />

V.Rev.ma há de saber que a polícia atacou-me e quis matar-me no lugar<<strong>br</strong> />

chamado Maceté, onde houve mortes de um e outro lado. No tempo <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

monarquia deixei-me prender, porque reconhecia o governo, hoje não, porque<<strong>br</strong> />

não reconheço a República."<<strong>br</strong> />

Esta explicação, de forma respeitosa e clara, não satisfez o capuchinho,<<strong>br</strong> />

que tinha a coragem de um crente mas não o tato finíssimo de um apóstolo.<<strong>br</strong> />

Contraveio, parafraseando a Prima-Petri:<<strong>br</strong> />

"- Senhor, se é católico, deve considerar que a Igreja condena as revoltas<<strong>br</strong> />

e, aceitando to<strong>da</strong>s as formas de governo. ensina que os poderes constituídos<<strong>br</strong> />

regem os povos em nome de Deus."<<strong>br</strong> />

Era quase, sem variantes, a própria frase de S. Paulo, em pleno reinado de<<strong>br</strong> />

Nero...

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