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Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br

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que é preciso transpor. Felizmente as barrancas, esteriliza<strong>da</strong>s dos enxurros,<<strong>br</strong> />

estão limpas: escassos restolhos de gramíneas; cactos esguios avultando<<strong>br</strong> />

raros, entre blocos em monte; ramalhos mortos de umbuzeiros alvejando na<<strong>br</strong> />

estonadura <strong>da</strong> seca...<<strong>br</strong> />

Desce por ali a guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> frente. Seguem-se-lhe os primeiros batalhões.<<strong>br</strong> />

Escoam-se, vagarosas, as <strong>br</strong>iga<strong>da</strong>s pela ladeira agreste. Embaixo, coleando<<strong>br</strong> />

nas voltas do vale estreito já está to<strong>da</strong> a vanguar<strong>da</strong>, armas fulgurantes, feri<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />

pelo sol, feito uma torrente escura transu<strong>da</strong>ndo raios...<<strong>br</strong> />

E um estremecimento, choque convulsivo e irreprimível, fá-la estacar de<<strong>br</strong> />

súbito.<<strong>br</strong> />

Passa, ressoando, uma bala.<<strong>br</strong> />

Desta vez os tiros partem, lentos, de um só ponto, do alto, parecendo feitos<<strong>br</strong> />

por um atirador único.<<strong>br</strong> />

A disciplina contém as fileiras; debela o pânico emergente; e, <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

anteriormente, uma seção se destaca e vai, encosta acima, rastreando a<<strong>br</strong> />

direção dos estampidos. O torvelinho dos ecos numerosos, porém, torna<<strong>br</strong> />

aquela variável; e os tiros não revelados, porque o fumo não se condensa<<strong>br</strong> />

naqueles ares ardentes, continuam lentos, assustadores, seguros.<<strong>br</strong> />

Afinal cessam. Sol<strong>da</strong>dos esparsos pelos pendores pesquisam-nos<<strong>br</strong> />

inutilmente.<<strong>br</strong> />

Volvem exaustos. Vi<strong>br</strong>am os clarins. A tropa renova a marcha <strong>com</strong> algumas<<strong>br</strong> />

praças de menos. E quando as últimas armas desaparecem, ao longe, na<<strong>br</strong> />

última ondulação do solo, desenterra-se de montões de blocos - feito uma<<strong>br</strong> />

cariátide sinistra em ruínas ciclópicas - um rosto <strong>br</strong>onzeado e duro; depois um<<strong>br</strong> />

torso de atleta, encourado e rude; e transpondo velozmente as ladeiras vivas<<strong>br</strong> />

desaparece, em momentos, o trágico caçador de <strong>br</strong>iga<strong>da</strong>s...<<strong>br</strong> />

Estas seguem desenfluí<strong>da</strong>s de todo. Daí por diante velhos lutadores têm<<strong>br</strong> />

pavores de crianças. Há estremecimentos em ca<strong>da</strong> volta do caminho, a ca<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

estalido seco nas macegas. O exército sente na própria força a própria<<strong>br</strong> />

fraqueza.<<strong>br</strong> />

Sem plastici<strong>da</strong>de segue numa exaustão contínua pelos ermos, atormentado<<strong>br</strong> />

no golpear <strong>da</strong>s cila<strong>da</strong>s, lentamente sangrado pelo inimigo, que o assom<strong>br</strong>a e<<strong>br</strong> />

que foge.<<strong>br</strong> />

A luta é desigual. A força militar decai a um plano interior Batem-na o<<strong>br</strong> />

homem e a terra. E quando o sertão estua nos bochornos dos estios longos<<strong>br</strong> />

não é difícil prever a quem cabe a vitória. Enquanto o minotauro, impotente e<<strong>br</strong> />

possante, inerme <strong>com</strong> a sua envergadura de aço e grifos de baionetas, sente a<<strong>br</strong> />

garganta exsicar-se-lhe de sede e, aos primeiros sintomas <strong>da</strong> fome, reflui à<<strong>br</strong> />

retaguar<strong>da</strong>, fugindo ante o deserto ameaçador e estéril, aquela flora agressiva<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>e ao sertanejo um seio carinhoso e amigo.<<strong>br</strong> />

Então - nas quadras indecisas entre a "seca" e o "verde", quando se topam

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