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Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br

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novo, seguem para os sambas e cateretês ruidosos, os solteiros, famanazes no<<strong>br</strong> />

'desafio, so<strong>br</strong>açando os machetes, que vi<strong>br</strong>am no "choradinho" ou "baião", e os<<strong>br</strong> />

casados levando to<strong>da</strong> a "o<strong>br</strong>igação", a família. Nas choupanas em festa<<strong>br</strong> />

recebem-se os convivas <strong>com</strong> estrepitosas salvas de ronqueiras e <strong>com</strong>o em<<strong>br</strong> />

geral não há espaço para tantos, arma-se fora, no terreiro varrido, revestido de<<strong>br</strong> />

ramagens, mobiliado de cepos e troncos, e raros tamboretes, mas imenso,<<strong>br</strong> />

alumiado pelo luar e pelas estrelas! o salão de baile. "Despontam o dia" <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

uns largos traços de aguardente, a "teimosa". E rompem estrídulamente os<<strong>br</strong> />

sapateados vivos.<<strong>br</strong> />

Um ca<strong>br</strong>a destalado ralha na viola. Serenam, em vagarosos meneios, as<<strong>br</strong> />

caboclas bonitas. Revoluteia,, "<strong>br</strong>abo e corado", o sertanejo moço.<<strong>br</strong> />

Desafios<<strong>br</strong> />

Nos intervalos travam-se os desafios.<<strong>br</strong> />

Enterreiram-se, adversários, dois cantores rudes. As rimas saltam e casamse<<strong>br</strong> />

em quadras muita vez belíssimas.<<strong>br</strong> />

Nas horas de Deus, amém,<<strong>br</strong> />

Não é zombaria, não!<<strong>br</strong> />

Desafio o mundo inteiro<<strong>br</strong> />

Pra cantar nesta função !<<strong>br</strong> />

O adversário retruca logo, levantando-lhe o último verso <strong>da</strong> quadra:<<strong>br</strong> />

Pra cantar nesta função,<<strong>br</strong> />

Amigo, meu camara<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />

Aceita teu desafio<<strong>br</strong> />

O "fama" deste sertão!<<strong>br</strong> />

É o <strong>com</strong>eço <strong>da</strong> luta que só termina quando um dos bardos se engasga<<strong>br</strong> />

numa rima difícil e titubeia, repinicando nervosamente o machete, sob uma<<strong>br</strong> />

avalancha de risos sau<strong>da</strong>ndo-lhe a derrota. E a noite vai deslizando rápi<strong>da</strong> no<<strong>br</strong> />

folguedo que se generaliza, até que as barras venham que<strong>br</strong>ando e cantem as<<strong>br</strong> />

sericóias nas ipueiras, <strong>da</strong>ndo o sinal de deban<strong>da</strong>r ao agrupamento folgazão.<<strong>br</strong> />

Termina<strong>da</strong> a festa volvem os vaqueiros à tarefa ou à rede preguiçosa.<<strong>br</strong> />

Alguns, de ano em ano, arrancam dos pousos tranquilos para remotas<<strong>br</strong> />

paragens. Transpõem o S. Francisco; mergulham nos gerais enormes do<<strong>br</strong> />

ocidente, vastos planaltos indefinidos em que se confundem as bacias <strong>da</strong>quele<<strong>br</strong> />

e do Tocantins em alagados de onde partem os rios indiferentemente para o<<strong>br</strong> />

levante e para o poente; e penetram em Goiás, ou, avantajando-se mais para o<<strong>br</strong> />

norte, as serras do Piauí.<<strong>br</strong> />

Vão à <strong>com</strong>pra de gados. Aqueles lugares longínquos, po<strong>br</strong>es e obscuros<<strong>br</strong> />

vilarejos que o Porto Nacional extrema, animam-se, então, passageiramente,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> a romaria dos "baianos" São os autocratas <strong>da</strong>s feiras. Dentro <strong>da</strong> armadura<<strong>br</strong> />

de couro, galhardos, <strong>br</strong>andindo a guia<strong>da</strong>, so<strong>br</strong>e os cavalos ariscos, entram<<strong>br</strong> />

naqueles vilarejos <strong>com</strong> um desgarre atrevido de triunfadores felizes. E ao

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