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Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br

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numerosas importações de escravos se acumulavam no litoral. A grande tarja<<strong>br</strong> />

negra de<strong>br</strong>uava a costa <strong>da</strong> Bahia ao Maranhão, mas pouco penetrava o<<strong>br</strong> />

interior. Mesmo em franca revolta, o negro humilde feito quilombola temeroso,<<strong>br</strong> />

agrupando-se nos mocambos, parecia evitar o âmago do país. Palmares, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

seus 30 mil mocambeiros, distava afinal poucas léguas <strong>da</strong> costa.<<strong>br</strong> />

Nesta última a uber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra fixara simultaneamente dois elementos,<<strong>br</strong> />

libertando o indígena. A cultura extensiva <strong>da</strong> cana, importa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Madeira,<<strong>br</strong> />

determinara o olvido dos sertões. Já antes <strong>da</strong> invasão holandesa, do Rio<<strong>br</strong> />

Grande do Norte à Bahia havia 160 engenhos. E esta exploração, em dilata<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

escala, progrediu depois em rápido crescendo.<<strong>br</strong> />

O elemento africano de algum modo estacou nos vastos canaviais <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

costa, agrilhoado à terra e determinando cruzamento de todo diverso do que se<<strong>br</strong> />

fazia no recesso <strong>da</strong>s capitanias. Aí campeava, livre, o indígena inapto ao<<strong>br</strong> />

trabalho e rebelde sempre, ou mal tolhido nos aldeamentos pela tenaci<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

dos missionários. A escravidão negra, constituindo-se derivativo ao egoísmo<<strong>br</strong> />

dos colonos, deixava aqueles mais desembaraçados que no Sul, nos esforços<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> catequese. <strong>Os</strong> próprios sertanistas ao chegarem, ultimando as rotas<<strong>br</strong> />

atrevi<strong>da</strong>s, àquelas paragens, tinham extinta a <strong>com</strong>bativi<strong>da</strong>de.<<strong>br</strong> />

Alguns, <strong>com</strong>o Domingos Sertão, cerravam a vi<strong>da</strong> aventureira, atraídos<<strong>br</strong> />

pelos lucros <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s de criação, abertas naqueles grandes latifúndios.<<strong>br</strong> />

Deste modo se estabeleceu distinção perfeita entre os cruzamentos<<strong>br</strong> />

realizados no sertão e no litoral.<<strong>br</strong> />

Com efeito, admitido em ambos <strong>com</strong>o denominador <strong>com</strong>um o elemento<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>anco, o mulato erige-se <strong>com</strong>o resultado principal do último e o curiboca do<<strong>br</strong> />

primeiro.<<strong>br</strong> />

Capítulo II<<strong>br</strong> />

Gênese dos jagunços; colaterais prováveis dos paulistas. Função histórica do<<strong>br</strong> />

rio S. Francisco. O vaqueiro, mediador entre o bandeirante e o padre.<<strong>br</strong> />

Fun<strong>da</strong>ções jesuíticas na Bahia. Um parêntesis irritante. Causas favoráveis à<<strong>br</strong> />

formação mestiça dos sertões, distinguindo-a dos cruzamentos no litoral. Uma<<strong>br</strong> />

raça forte.<<strong>br</strong> />

A demonstração é positiva. Há um notável traço de originali<strong>da</strong>de na gênese<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> população sertaneja, não diremos do Norte, mas do Brasil subtropical.<<strong>br</strong> />

Esbocemo-lo; e para não nos delongarmos demais, afastemo-nos pouco do<<strong>br</strong> />

teatro em que se desenrolou o drama histórico de Canudos, percorrendo<<strong>br</strong> />

rapi<strong>da</strong>mente o rio de São Francisco, "o grande caminho <strong>da</strong> civilização<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileira", conforme o dizer feliz de um historiador .<<strong>br</strong> />

Vimos, de relance, em páginas anteriores, que ele atravessa as regiões<<strong>br</strong> />

mais dispares. Ampla nas cabeceiras, a sua dilata<strong>da</strong> bacia colhe na rede de<<strong>br</strong> />

numerosos afluentes a metade de Minas, na zona <strong>da</strong>s montanhas e <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />

florestas. Estreita-se depois passando na parte mediana pela paragem<<strong>br</strong> />

formosíssima dos gerais. No curso inferior, a jusante de Juazeiro, constrita

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