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Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br

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O malogro desta tentativa, entretanto, denuncia menos a desvalia de uma<<strong>br</strong> />

aproximação imposta rigorosamente por circunstâncias tão notáveis, do que o<<strong>br</strong> />

exclusivismo de atentar-se para uma causa única. Porque a questão, <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>plexi<strong>da</strong>de imanente aos fatos concretos, se atém, de preferência, a razões<<strong>br</strong> />

secundárias, mais próximas e enérgicas, e estas, em mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des progredindo,<<strong>br</strong> />

contínuas, <strong>da</strong> natureza do solo à disposição geográfica, só serão<<strong>br</strong> />

definitivamente sistematiza<strong>da</strong>s quando extensa série de observações permitir a<<strong>br</strong> />

definição dos agentes preponderantes do clima sertanejo.<<strong>br</strong> />

Como quer que seja, o penoso regímen dos Estados do Norte está em<<strong>br</strong> />

função de agentes desordenados e fugitivos, sem leis ain<strong>da</strong> defini<strong>da</strong>s, sujeitas<<strong>br</strong> />

às perturbações locais, deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong> terra, e a reações mais<<strong>br</strong> />

amplas, promana<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s disposições geográficas. Daí as correntes aéreas que<<strong>br</strong> />

o desequili<strong>br</strong>am e variam.<<strong>br</strong> />

Determina-o em grande parte, e talvez de modo preponderante, a monção<<strong>br</strong> />

de nordeste, oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> forte aspiração dos planaltos interiores que, em vasta<<strong>br</strong> />

superfície alarga<strong>da</strong> até ao Mato Grosso, são, <strong>com</strong>o se sabe, sede de grandes<<strong>br</strong> />

depressões barométricas, no estio. Atraído por estas, o nordeste vivo, ao<<strong>br</strong> />

entrar, de dezem<strong>br</strong>o a março, pelas costas setentrionais, é singularmente<<strong>br</strong> />

favorecido pela própria conformação <strong>da</strong> terra, na passagem célere por so<strong>br</strong>e os<<strong>br</strong> />

chapadões desnudos que irradiando intensamente lhe alteiam o ponto de<<strong>br</strong> />

saturação diminuindo as probabili<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s chuvas, e repelindo-o, de modo a<<strong>br</strong> />

lhe permitir acarretar para os recessos do continente, intacta, so<strong>br</strong>e os<<strong>br</strong> />

mananciais dos grandes rios, to<strong>da</strong> a umi<strong>da</strong>de absorvi<strong>da</strong> na travessia dos<<strong>br</strong> />

mares.<<strong>br</strong> />

De fato, a disposição orográfica dos sertões, à parte ligeiras variantes -<<strong>br</strong> />

cor<strong>da</strong>s de serras que se alinham para nordeste paralelamente à monção<<strong>br</strong> />

reinante - , facilita a travessia desta. Canaliza-a. Não a contrabate num<<strong>br</strong> />

antagonismo de encostas, abarreirando-a, alteando-a, provocando-lhe<<strong>br</strong> />

resfriamento e a condensação em chuvas.<<strong>br</strong> />

Um dos motivos <strong>da</strong>s secas repousa, assim, na disposição topográfica.<<strong>br</strong> />

Falta às terras flagela<strong>da</strong>s do Norte uma alta serrania que, correndo em<<strong>br</strong> />

direção perpendicular àquele vento, determine a dynamic colding, consoante<<strong>br</strong> />

um dizer expressivo.<<strong>br</strong> />

Um fato natural de ordem mais eleva<strong>da</strong> esclarece esta hipótese.<<strong>br</strong> />

Assim é que as secas aparecem sempre entre duas <strong>da</strong>tas fixa<strong>da</strong>s há muito<<strong>br</strong> />

pela prática dos sertanejos, de 12 de dezem<strong>br</strong>o a 19 de março. Fora de tais<<strong>br</strong> />

limites não há um exemplo único de extinção de secas. Se os atravessam,<<strong>br</strong> />

prolongam-se fatalmente por todo o decorrer do ano, até que se rea<strong>br</strong>a outra<<strong>br</strong> />

vez aquela quadra. Sendo assim e lem<strong>br</strong>ando-nos que é precisamente dentro<<strong>br</strong> />

deste intervalo que a longa faixa <strong>da</strong>s calmas equatoriais, no seu lento oscilar<<strong>br</strong> />

em torno do equador, paira no zênite <strong>da</strong>queles Estados. levando a bor<strong>da</strong> até<<strong>br</strong> />

aos extremos <strong>da</strong> Bahia, não poderemos considerá-la, para o caso, <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />

função de uma montanha ideal que correndo de leste a oeste corrigindo<<strong>br</strong> />

momentaneamente lastimável disposição orográfica, se anteponha a monção e<<strong>br</strong> />

lhe provoque a para<strong>da</strong>, a ascensão <strong>da</strong>s correntes, o resfriamento subseqüente

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