Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br

se, fustigada a tiros, ao atravessar o Vaza-Barris, sendo a custo reunida,<br />
perdendo-se algumas cabeças. Ao toque de recolher os jagunços investem<br />
contra as linhas, perdurando o ataque até às nove e meia e continuando,<br />
afrouxo, daí por diante. Resultado: um comandante superior ferido; um<br />
subalterno morto, dez ou doze praças fora de combate.<br />
Dia 20 - O acampamento é subitamente atacado quando as cornetas de<br />
todos os corpos tocam a alvorada. Tiroteios durante o dia todo. Consegue-se<br />
assestar apenas um dos canhões reconduzidos. Há o mesmo número de<br />
baixas da véspera: um soldado morto.<br />
Dia 21- Madrugada tranqüila. Poucos ataques durante o dia. Os canhões<br />
da Favela bombardeiam até à boca da noite. Dia relativamente calmo. Poucas<br />
baixas.<br />
Dia 22 - Sem aguardar a iniciativa do adversário, a artilharia abre o<br />
canhoneio às cinco horas da manhã -provocando revide pronto e virulento de<br />
atiradores encobertos nos muros das igrejas. São penosamente conduzidos, do<br />
campo da ação para o acampamento da Favela, os últimos feridos. Segue em<br />
reconhecimento pelas cercanias o tenente-coronel Siqueira de Meneses. Ao<br />
voltar declara estar o inimigo muito forte, e que muito poucas casas de<br />
Canudos estão em nosso poder, atenta a comparação com o número das que<br />
formam o povoado. Somente à noite se torna possível distribuir parcas rações<br />
de gêneros aos soldados da linha de frente, o que foi impossível fazer durante<br />
o dia, pela vigilância dos antagonistas. Às nove horas da noite assalto violento<br />
pelos dois flancos. Resultado: 25 homens fora de combate.<br />
Dia 23 - Alvorada tranqüila. Repentinamente, uma hora depois, às seis da<br />
manhã, os jagunços, depois de um movimento contornante despercebido,<br />
caem impetuosamente sobre a retaguarda do campo de batalha. São repelidos<br />
pelo 34.° Batalhão e Corpo Policial, deixando quinze mortos, uma cabocla<br />
prisioneira e um surrão de farinha. À noite tiroteios cerrados. Os três canhões<br />
deram apenas nove disparos por falta de munições.<br />
Dia 24 - Começou o bombardeio ao levantar do sol. O povoado, contra o<br />
costume, suporta-o sem réplica. Os schrapnels da Favela caem lá dentro e<br />
estouram, como se batessem numa tapera deserta. Durante largo tempo<br />
trucida-o o canhoneio impunemente. Às oito horas, porém, ouvem-se alguns<br />
estampidos, raros, à direita; e logo depois são assaltados os canhões daquele<br />
flanco. Enreda-se o conflito braço a braço, carabinas esbocadas aos peitos, e<br />
generaliza-se num crescendo apavorante. Vibram de ponta a ponta dezenas de<br />
cornetas. Toda a tropa forma para a batalha. O ataque visava cortar a<br />
retaguarda da linha de frente. Um movimento temerário. Cortando-a cairiam<br />
sobre o quartel-general, e poriam os sitiantes entre dois fogos. Era um plano de<br />
Pajeú que, tendo deposto os demais cabecilhas, assumira a direção da luta.<br />
Esse assalto durou meia hora. Os jagunços repelidos, porém, volveram<br />
minutos depois, outra vez sobre a tropa, arremetendo com maior arrojo sobre a<br />
direita. A custo repelidos recuam até às primeiras casas não conquistadas de<br />
onde reatam o tiroteio, cerrado, contínuo. Tombam o comandante do 33.°,<br />
Antônio Nunes Sales, e muitos oficiais e praças. Ao meio-dia cessa a agitação.<br />
Súbito silêncio desce sobre os dois campos. À uma hora - novo assalto,