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Os Sertões - Euclides da Cunha - Mkmouse.com.br

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única. O seu chefe, genuíno patriarca, congregara filhos, netos e bisnetos em<<strong>br</strong> />

ovação ruidosa ao marechal, o "monarca", conforme <strong>br</strong>a<strong>da</strong>va convicto, numa<<strong>br</strong> />

alacri<strong>da</strong>de ingênua e sã, ao alevantar nos <strong>br</strong>aços cansados de um labutar de<<strong>br</strong> />

oitenta anos o ministro surpreendido.<<strong>br</strong> />

Esta escala foi providencial. Cansanção era um parêntese feliz naquele<<strong>br</strong> />

desolamento. E o robusto velho que o governava, surgindo blin<strong>da</strong>do de uma<<strong>br</strong> />

satisfação sadia ante homens que nunca vira, e apresentando-lhes um filho de<<strong>br</strong> />

cabelos <strong>br</strong>ancos e netos quase grisalhos, era, por sua vez, uma revelação.<<strong>br</strong> />

Antítese do facínora precoce de Queima<strong>da</strong>s, revelava, animadora, esta<<strong>br</strong> />

robustez miraculosa, esta no<strong>br</strong>eza orgânica <strong>com</strong>pleta<strong>da</strong> por uma alma sem<<strong>br</strong> />

refolhos, tão característica dos matutos, quando os não derrancam o fanatismo<<strong>br</strong> />

e o crime.<<strong>br</strong> />

Por isto o lugarejo minúsculo, uma dúzia de casas adensa<strong>da</strong>s em rua de<<strong>br</strong> />

poucas <strong>br</strong>aças, é o único que não desperta, nas narrativas <strong>da</strong> campanha,<<strong>br</strong> />

recor<strong>da</strong>ções dolorosas. Era a única zona tranqüila naquela balbúrdia. Um<<strong>br</strong> />

pequeno hospital, entregue à solicitude de dois franciscanos, ali acolhia os<<strong>br</strong> />

romeiros sem forças que iam para Queima<strong>da</strong>s.<<strong>br</strong> />

Deixando-o, os viajantes volviam logo às amarguras <strong>da</strong> trilha poenta,<<strong>br</strong> />

desespera<strong>da</strong>mente torci<strong>da</strong> em voltas infinitas, retalhando-se em desvios, orla<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

de choupanas estruí<strong>da</strong>s e palmilha<strong>da</strong> de ponta a ponta pelas turmas<<strong>br</strong> />

sucessivas de foragidos.<<strong>br</strong> />

Palimpsestos ultrajantes<<strong>br</strong> />

E em to<strong>da</strong> a parte - a partir de Conten<strong>da</strong>s - em ca<strong>da</strong> parede <strong>br</strong>anca de<<strong>br</strong> />

qualquer viven<strong>da</strong> mais apresentável, aparecendo rara entre os case<strong>br</strong>es de<<strong>br</strong> />

taipa, se a<strong>br</strong>ia uma página de protestos infernais. Ca<strong>da</strong> ferido, ao passar, nelas<<strong>br</strong> />

deixava, a riscos de carvão, um reflexo <strong>da</strong>s agruras que o alanceavam,<<strong>br</strong> />

liberrimamente, acobertando-se no anonimato <strong>com</strong>um. A mão de ferro do<<strong>br</strong> />

exército ali se espalmara traçando em caracteres enormes o entrecho do<<strong>br</strong> />

drama; fotografando, exata, naquelas grandes placas, o facies tremendo <strong>da</strong><<strong>br</strong> />

luta em inscrições lapi<strong>da</strong>res, numa grafia <strong>br</strong>onca, onde se colhia em flagrante o<<strong>br</strong> />

sentir dos que o haviam gravado.<<strong>br</strong> />

Sem a preocupação <strong>da</strong> forma, sem fantasias enganadoras, aqueles<<strong>br</strong> />

cronistas rudes deixavam por ali, indelével, o esboço real do maior escân<strong>da</strong>lo<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> nossa história - mas <strong>br</strong>utalmente, ferozmente, em pasquina<strong>da</strong>s incríveis -<<strong>br</strong> />

libelos <strong>br</strong>utos, em que se casavam pornografias revoltantes e desesperanças<<strong>br</strong> />

fun<strong>da</strong>s, sem uma frase varonil e digna. A on<strong>da</strong> escura de rancores que rolava<<strong>br</strong> />

na estra<strong>da</strong> chofrava aqueles muros, entrava pelas casas dentro, afogava as<<strong>br</strong> />

paredes até ao teto...<<strong>br</strong> />

A <strong>com</strong>itiva, penetrando-as, repousava envolta num coro silencioso de<<strong>br</strong> />

impropérios e pragas. Versos cambeteantes, riçados de rimas duras,<<strong>br</strong> />

enfeixando torpezas incríveis na moldura de desenhos pavorosos; imprecações<<strong>br</strong> />

revoluteando pelos cantos numa coréia fantástica de letras tumultuárias, em<<strong>br</strong> />

que caíam, violentamente, pontos de admiração rígidos <strong>com</strong>o estaca<strong>da</strong>s de<<strong>br</strong> />

sa<strong>br</strong>e; vivas ! morras! saltando por to<strong>da</strong> a ban<strong>da</strong> em cima de nomes ilustres,<<strong>br</strong> />

infamando-os, esbarrando-se discordes; trocadilhos ferinos; convícios

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