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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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72<br />

Ele não tem medo de parecer feio. Ele ousa dar as costas para a arte. Não<br />

encontramos um só enquadramento “planejado”. Nenhuma foto “bonita”<br />

para colocar na sua parede. Nenhuma montagem de ideias. Tudo<br />

emana do tema. A verdade é o que conta. O novo cineasta é filho de seu<br />

tempo: ele já teve o bastante da pré-fabricação, da falsa inteligência.<br />

Mesmo os erros, os planos fora de foco, os planos tremidos, os passos<br />

inseguros, os movimentos hesitantes, os pedaços superexpostos ou<br />

subexpostos fazem parte do vocabulário. As portas para a espontaneidade<br />

se abrem; o ar viciado do profissionalismo rançoso e respeitável escapa.<br />

O que a velha geração esperta crê importante, o novo artista acha<br />

sem importância, pretensioso, entediante e, além do mais, imoral. Ele<br />

encontra mais vida e “importância” nos pequenos e insignificantes detalhes<br />

secundários. O insignificante, o efêmero, o espontâneo são as passagens<br />

que revelam a vida e que possuem todo o entusiasmo e a beleza.<br />

Estou cansado dos esnobes e dos pretensiosos que acusam os<br />

novos cineastas de câmeras trêmulas e de pobreza técnica, da mesma<br />

maneira em que acusam o compositor moderno, o escultor moderno,<br />

o pintor moderno de negligência e pobreza técnica. Tenho pena de tais<br />

críticos. Eles vivem no passado. Eles perdem o ritmo, o espírito, a essência<br />

da época em que vivem – tempos de mudança. Tudo bem gostar<br />

de antiguidades. Mas suas antiguidades são falsas, como falsos Vermeer.<br />

E não estou mesmo interessado em lhes explicar isto por mais tempo.<br />

São incorrigíveis.<br />

No entanto, irei passar meu tempo anunciando o novo. Maiakovski<br />

disse um dia que há uma zona na mente humana que pode ser alcançada<br />

apenas através da poesia, e só através daquela poesia que está<br />

constantemente acordada, mudando. Poderíamos dizer ainda que há<br />

uma zona na mente humana que pode ser alcançada através do cinema,<br />

daquele que está sempre acordado, sempre mudando.<br />

Apenas o cinema que está sempre acordado, sempre mudando,<br />

pode revelar, descrever, nos conscientizar, dar pistas do que somos ou<br />

do que não somos, do que amamos e do que precisamos, ou revelar a<br />

verdadeira beleza; apenas este cinema possui as palavras apropriadas<br />

para isso. O filme de Burton é parte deste cinema. Ele captura a realidade<br />

contemporânea pela cauda – e ela se torna tão próxima quanto jamais

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