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Na segunda semana após ter chegado aqui em 1949, peguei dinheiro<br />
emprestado de pessoas que conhecia e que tinham chegado antes<br />
e comprei a minha primeira Bolex. Comecei a praticar, filmar, e pensei<br />
que estivesse aprendendo. Por volta de 1961 ou 1962, vi pela primeira<br />
vez todo o material que tinha coletado durante todo aquele tempo.<br />
Ao ver aquele material antigo, notei que havia várias conexões nele. As<br />
sequências que considerava totalmente desconectadas de súbito começaram<br />
a parecer um caderno de notas com muitos fios unificadores,<br />
mesmo naquela forma desorganizada. Percebi que havia coisas nesse<br />
material que voltavam de novo e de novo. Pensava que cada vez que filmava<br />
algo diferente, eu filmava outra coisa . Mas não era assim. Não era<br />
sempre “outra coisa”. Eu voltava aos mesmos assuntos, às mesmas imagens<br />
ou fontes de imagens. Como, por exemplo, a neve. Praticamente<br />
não há neve em Nova York; todas as minhas notas de Nova York estão<br />
cheias de neve. Ou árvores. Quantas árvores você vê nas ruas de Nova<br />
York? Enquanto estudava esse material e pensava sobre ele, tornei-me<br />
consciente da forma de um filme-diário e, é claro, isso começou a afetar<br />
minha maneira de filmar, meu estilo. E em certo sentido isso me ajudou<br />
a ter paz de espírito. Eu disse para mim mesmo: “Bem, muito bem – se<br />
não tenho tempo para dedicar seis ou sete meses à produção de um filme,<br />
não vou me abalar; irei filmar notas curtas, dia a dia, todos os dias”.<br />
Pensei sobre outras formas de diário, em outras artes. Quando<br />
você escreve um diário, por exemplo, você se senta, à noite, sozinho,<br />
e reflete sobre seu dia, em retrospecto. Mas ao filmar, ao manter um<br />
caderno de notas com a câmera, o maior desafio consiste em como reagir<br />
com a câmera no instante, durante o acontecimento; como reagir<br />
de modo que a filmagem reflita o que senti naquele exato momento.<br />
Se escolho filmar certo detalhe no decorrer da minha vida, deve haver<br />
boas razões pelas quais separei esse detalhe específico de milhares de<br />
outros. Seja no parque, na rua ou numa reunião de amigos – há razões<br />
pelas quais escolho filmar certo detalhe. Pensei que estivesse fazendo<br />
um diário bastante objetivo da minha vida em Nova York. Mas os amigos<br />
que viram a primeira edição de Walden (Diaries, Notes & Sketches)<br />
me disseram: “Mas esta não é a minha Nova York! A minha Nova York<br />
é diferente. Na sua Nova York eu gostaria de viver. Mas a minha Nova