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dramáticas estão sendo tomadas. E haverá (e há), por exemplo, aqueles<br />
que terão dificuldade de dar o salto para o novo período. Este é o tempo<br />
em que ambos, artistas e pessoas, devem tomar suas decisões: fico<br />
onde estou e defendo minha posição; ou sigo adiante, em direção ao<br />
futuro, quase cego, sem um objetivo claro, apesar de tudo, certo de tomar<br />
esta direção. As transições são dramáticas, violentas. Os políticos<br />
nos dizem: Por favor, atenção; vá devagar; reeduquem-se. Mas alguns<br />
de nós dizemos: Não, somos empurrados para a margem, nossas ações<br />
são reações de defesa automáticas, reflexos. Vamos bater, vamos atirar,<br />
não nos empurrem, o país irá queimar com a guerrilha.<br />
Alguns dos nossos melhores artistas, devido a toda espécie de<br />
conflito, interiores e exteriores, de precipícios, políticos, sociais, emocionais,<br />
etc., estão passando por essas mudanças dramáticas. Maior é<br />
o artista, mais dramática é a transição. Muitos dentre vocês viram o<br />
anúncio de Kenneth Anger na Voice de 26 de outubro de 1967. Ele disse:<br />
“In memoriam, Kenneth Anger, cineasta, 1947-1967”. Em 1947, o<br />
primeiro filme de Anger, Fireworks, foi realizado. O original da imagem<br />
e do som de Lucifer Rising, seu mais novo filme, foi roubado do<br />
artista – testemunho da falta de sentido e da violência acumulada do<br />
nosso tempo. Kenneth Anger, especialista em ciências ocultas, personagem<br />
torturado e profético, vê e interpreta os sinais dos tempos, e sofre<br />
seus efeitos nas suas próprias ações. Então ele declarou a morte do<br />
antigo Kenneth Anger. Ele fez o que devia e podia. Ele está entrando na<br />
Era de Aquário como um outro homem, e este novo Anger talvez não<br />
será um cineasta, diz ele. De qualquer maneira, ele está fazendo um<br />
esforço dramático e hercúleo para continuar vivendo, para dar um outro<br />
passo como praticamente outro homem – num momento em que<br />
muitos dentre nós desistimos. Stan Brakhage, no alto de suas montanhas<br />
no Colorado, também atravessa turbulências dramáticas, e o ar<br />
treme enquanto esses dois artistas tentam cruzar seus destinos entre<br />
duas humanidades, eles mesmos como pontes entre as duas, com suas<br />
próprias vidas tentam manter a humanidade unida, dar a ela alguma<br />
continuidade e não deixá-la quebrar em pedaços.<br />
Hoje é preciso muita coragem para acreditar no futuro e que o<br />
bem irá vencer. Tudo parece tão ermo, se julgarmos pela política e pela<br />
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