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Lumière acaba o levando de volta à história do cinema), a indústria moderna<br />
permanece em geral fora de seu foco, 26 embora sua vida cotidiana<br />
em Manhattan o aproxime constantemente da reconstrução mecânica<br />
da cidade. Como Monet, ele representou a modernidade ao figurá-la<br />
nos trens ou na cidade coberta pela neve. Assim, Walden contém quatro<br />
grandes jornadas de trem, a partir das quais os elementos naturais aparecem<br />
numa beleza pujante, enquanto o ruído do metrô de Nova York,<br />
onipresente na trilha sonora, costuma soar como o vento da primavera<br />
que sopra durante todo o filme. E Nova York, quando não é o palco de<br />
um esplendor bucólico, é vista em geral sob a neve; como o próprio Thoreau,<br />
<strong>Mekas</strong> é um “inspetor de nevascas autonomeado”. 27<br />
Função complementar do fascínio de sua infância rural e sua vida<br />
boêmia em Nova York, a inabilidade de <strong>Mekas</strong> de abordar diretamente<br />
a modernidade em seu diário significa que esta prática do cinema não<br />
pôde permitir que recuperasse a completude social lembrada da época<br />
da Lituânia. Para que isto seja cumprido, o confinamento do diário em<br />
filme na presente percepção do indivíduo tem que ser ampliado para<br />
uma forma de maior discursividade, capaz de extensão social e de lidar<br />
com a história... Na produção de Walden e dos filmes-diário subsequentes,<br />
todos os componentes da prática do diário em filme foram<br />
transformados: a montagem substituiu a filmagem como o momento<br />
crucial da percepção; fragmentos de filme substituíram a textura visual<br />
da vida cotidiana como objeto privilegiado do olhar; a inscrição da subjetividade<br />
assumiu a forma, não do quadro individual somaticamente<br />
ajustado e da manipulação da íris na visualização pela câmera, e sim nos<br />
cortes e no acréscimo de intertítulos e trilhas sonoras na sala de montagem.<br />
Juntas, estas mudanças voltaram à prática no sentido da projeção,<br />
que antes mal tinha sido vislumbrada. E, assim, em vez da internalização<br />
das relações sociais como objetos da visão individual no diário em<br />
filme, a nova prática implicou em um espectador; na verdade, em uma<br />
comunidade de espectadores.<br />
185<br />
26 Em Reminiscences of a Journey to Lithuania, por exemplo, <strong>Mekas</strong> declara sua absoluta falta de<br />
interesse no progresso tecnológico obtido durante a sovietização, seu desejo era apenas ver a Lituânia.<br />
27 Assim, “praticamente não há neve em Nova York; mas todos os meus cadernos de Nova York<br />
estão cheios de neve” (MEKAS, 1978, p. 191).