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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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Lumière acaba o levando de volta à história do cinema), a indústria moderna<br />

permanece em geral fora de seu foco, 26 embora sua vida cotidiana<br />

em Manhattan o aproxime constantemente da reconstrução mecânica<br />

da cidade. Como Monet, ele representou a modernidade ao figurá-la<br />

nos trens ou na cidade coberta pela neve. Assim, Walden contém quatro<br />

grandes jornadas de trem, a partir das quais os elementos naturais aparecem<br />

numa beleza pujante, enquanto o ruído do metrô de Nova York,<br />

onipresente na trilha sonora, costuma soar como o vento da primavera<br />

que sopra durante todo o filme. E Nova York, quando não é o palco de<br />

um esplendor bucólico, é vista em geral sob a neve; como o próprio Thoreau,<br />

<strong>Mekas</strong> é um “inspetor de nevascas autonomeado”. 27<br />

Função complementar do fascínio de sua infância rural e sua vida<br />

boêmia em Nova York, a inabilidade de <strong>Mekas</strong> de abordar diretamente<br />

a modernidade em seu diário significa que esta prática do cinema não<br />

pôde permitir que recuperasse a completude social lembrada da época<br />

da Lituânia. Para que isto seja cumprido, o confinamento do diário em<br />

filme na presente percepção do indivíduo tem que ser ampliado para<br />

uma forma de maior discursividade, capaz de extensão social e de lidar<br />

com a história... Na produção de Walden e dos filmes-diário subsequentes,<br />

todos os componentes da prática do diário em filme foram<br />

transformados: a montagem substituiu a filmagem como o momento<br />

crucial da percepção; fragmentos de filme substituíram a textura visual<br />

da vida cotidiana como objeto privilegiado do olhar; a inscrição da subjetividade<br />

assumiu a forma, não do quadro individual somaticamente<br />

ajustado e da manipulação da íris na visualização pela câmera, e sim nos<br />

cortes e no acréscimo de intertítulos e trilhas sonoras na sala de montagem.<br />

Juntas, estas mudanças voltaram à prática no sentido da projeção,<br />

que antes mal tinha sido vislumbrada. E, assim, em vez da internalização<br />

das relações sociais como objetos da visão individual no diário em<br />

filme, a nova prática implicou em um espectador; na verdade, em uma<br />

comunidade de espectadores.<br />

185<br />

26 Em Reminiscences of a Journey to Lithuania, por exemplo, <strong>Mekas</strong> declara sua absoluta falta de<br />

interesse no progresso tecnológico obtido durante a sovietização, seu desejo era apenas ver a Lituânia.<br />

27 Assim, “praticamente não há neve em Nova York; mas todos os meus cadernos de Nova York<br />

estão cheios de neve” (MEKAS, 1978, p. 191).

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