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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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come seu cogumelo. Não estamos – ou não estamos mais – acostumados<br />

a tal humildade de existência; a felicidade nos parece suspeita.<br />

Que estúpidos arrogantes nós somos!<br />

2. Esses filmes são como jogos, não são nada “sérios”. Nem mesmo<br />

parecem cinema. Ficam felizes em se chamarem “filmes caseiros”.<br />

Jogos inúteis, “insensatos”, “infantis”, sem grande “intelecto”, sem<br />

“nada” a “dizer”; algumas pessoas sentadas, caminhando, pulando,<br />

dormindo, ou rindo, fazendo coisas inúteis, desimportantes, sem “intenções”,<br />

sem “mensagens” – parecem estar ali apenas por estar. Que<br />

irresponsável! Motivos de asas de mariposa, pétalas de flores, desenhos<br />

aleatórios: onde está e qual é o significado “profundo” de toda essa<br />

brincadeira? Stan Brakhage, com 30 anos, ainda brinca com asas coloridas<br />

de mariposas 1 ... ou Marie Menken: na Cinemathèque Française<br />

riram e fizeram barulhos estranhos durante seus pequenos filmes: por<br />

que ela mostrou flores, e pássaros, e fontes? Nada “dramático”, nada realmente<br />

para os adultos que, afinal, estão aqui para fazer coisas grandes!<br />

3. Olhamos as caixas de Andy Warhol ou Walter de Maria esperando<br />

que algo aconteça, algum tipo de onda estética que nos capture e<br />

nos agite. Mas as caixas não fazem nada; pequenos filmes não “agitam”:<br />

eles existem por conta própria, de maneira despretensiosa.<br />

Lentamente, o silêncio persistente das caixas, a atitude lúdica dos filmes<br />

de Marie Menken, ou dos filmes de Joseph Cornell, ou a despretensão<br />

de Eyewash fazem a nossa própria arrogância começar a desabar.<br />

Os únicos sinais, os únicos traços visíveis pelos quais podemos<br />

dizer ou detectar que Little Stabs ou Cornell ou Menken passaram por<br />

aqui são as gotas de felicidade que ficam em nossos rostos, toques de<br />

alegria. Sua arte é tão desprovida de ação.<br />

4. “Quando cheguei ao restante da sua carta (tirando o ‘prazer de<br />

falar através do espaço’ como você coloca), eu confrontei A outra tentação<br />

da minha vida, que pode ser melhor caracterizada pela sua pergunta<br />

(na carta recebida esta manhã): ‘Não somos aqueles que no final irão tomar<br />

o controle desta Sociedade e Cultura?’. Após lutar com tais sussurros<br />

(graças aos céus eles foram calados nestes dias) desde que recebi sua<br />

45<br />

1 Ele se refere a Mothlight, filme de 1963 de Stan Brakhage. [N.E]

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