07.02.2017 Views

Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

Jonas Mekas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

16<br />

e câmera na mão como formas de resposta imediata aos estímulos do<br />

mundo, mantendo na edição tudo tal qual filmado. Um dos aspectos<br />

mais singulares dessa total integração entre câmera e homem é o uso<br />

que ele faz do single shot frame e das variações de velocidade. Gravando<br />

em velocidades que podem variar de 1 a 64 fotogramas por segundo<br />

(mas prevendo a exibição em 24 quadros por segundo) e frequentemente<br />

alterando essas velocidades no mesmo registro, <strong>Mekas</strong> produz<br />

imagens que operam por saltos, intermitências, vazios. São imagens<br />

em staccato, nas quais se vê, um a um, cada fotograma passando e então<br />

desaparecendo. Ou melhor, vê-se o fotograma e sua passagem; o<br />

fotograma e o que está fora dele, o que o separa de outro fotograma.<br />

A imagem pisca, e memórias negras (uma linha que separa o fotograma?)<br />

imprimem-se na retina. “Fotogramas, fotogramas isolados”, ouviremos<br />

ele dizer no último rolo de Walden: “O cinema está entre os<br />

fotogramas”. A unidade do plano é abolida, tanto em termos de composição<br />

(com imagens sempre tremidas e em movimento) quanto em<br />

termos de duração, pois há imagens que não duram mais que três ou<br />

quatro fotogramas – imagens de mais de 10 segundos são uma raridade,<br />

algumas vezes desejada pelo espectador que se confronta com esses<br />

filmes pela primeira vez. Com efeito, um dos problemas que essas<br />

imagens nos colocam é a definição do que é um plano em seu cinema.<br />

O ritmo intermitente das imagens e do registro mais a presença reiterada<br />

dos intervalos entre os fotogramas tornam impossível determinar<br />

onde começa e onde termina cada plano.<br />

Dessa desnaturalização do movimento constante dos fotogramas<br />

e do consequente tensionamento entre, de um lado, a afirmação<br />

da imagem fixa e, de outro, a sua impermanência, desdobra-se uma<br />

dimensão que se poderia chamar de fotográfica: a relação entre presença<br />

e ausência, duração e instantaneidade. A fotografia, sabe-se, é<br />

capaz de presentificar algo há muito perdido, ao mesmo tempo em<br />

que se afirma como presença dessa ausência. O passado está sempre<br />

no passado, e a fotografia existe como esse estranho lugar onde o que<br />

já passou (o isso foi) acena para o presente, toca-o, ao mesmo tempo<br />

em que afirma-se como passado. Fotografar é separar para sempre o<br />

presente do passado, é quebrar um relógio, é marcar a descontinui-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!