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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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202<br />

ideia do cinema ideal. Mas, como tal retorno ao lar prejudica a posição<br />

da verdadeira Lituânia no mito de sua própria vida, é preciso também<br />

que este seja problemático; e, assim, na seção seguinte, acompanhando<br />

imagens de imigrantes lituanos envolvidos numa dança folclórica, ele<br />

relata seus vários medos mórbidos e o fato de não mais se lembrar de<br />

seus sonhos, perguntando então, “Será que estou perdendo tudo aquilo<br />

que trouxe comigo de fora?”, cortando então para uma sombria canção<br />

folclórica lituana. A justaposição dos traços da Lituânia da infância com<br />

a forma ideal de sua recriação é a crise do filme; esta é resolvida pela aceitação<br />

da compensação da perfeição da vida cotidiana – inclusive da vida<br />

no Novo Mundo – e da comunidade de cineastas independentes. Assim,<br />

na terceira seção, ele retorna a Nova York, ao ambiente do Novo Cinema<br />

Americano, reconhecendo-o como Walden nos termos que já exploramos.<br />

Ao descobrir seu lar no cinema, ele descobre uma América na reencenação<br />

individual da origem do país. 35 Mas não completamente; ele<br />

também preserva seu isolamento, rejeitando finalmente a assimilação<br />

total a esta comunidade e o tipo de filme que ele começou a fazer.<br />

No último movimento do filme, depois de voltar da casa dos<br />

Brakhage, ele esclarece sua própria prática como uma percepção pessoal.<br />

Mas esta é definida nem tanto contra Hollywood nem quanto contra<br />

a vanguarda, que agora é revelada como degradada, pois tornou-se<br />

comercial e sensacionalista. O tema contrário é dramatizado numa sequência<br />

longa em que Adolfas dirige cenas de seu filme, Hallelujah the<br />

Hills, para o proveito de uma equipe alemã de TV que faz um documentário<br />

sobre o cinema underground. É também articulado discursivamente<br />

numa narração em que, destacando a ausência de drama ou suspense<br />

em suas imagens, <strong>Mekas</strong> afirma que estas são “apenas imagens<br />

para mim e alguns outros. Não é preciso assisti-las, mas, quem quiser<br />

fazê-lo, pode”. Esta rejeição do objeto orgânico da arte em benefício do<br />

35 Novamente estou lendo <strong>Mekas</strong> por meio de Cavell, que destaca a mudança de Thoreau para<br />

Walden no feriado da independência: “Sabemos o dia específico do ano específico no qual todos os<br />

ancestrais da Nova Inglaterra fizeram seu abrigo na floresta. Aquele momento de origem é o evento<br />

nacional reencenado nos eventos de Walden, desta vez com o objetivo de fazê-lo da maneira correta<br />

ou provar que é impossível; de descobrir e se instalar nesta terra, ou a questão desta terra, de uma vez<br />

por todas” (1972, p. 8).

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