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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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do sol feito por uma mulher do Bronx; ou dos planos desajeitados dos<br />

amadores com suas câmeras 8 mm.<br />

Se o Fluxus defende uma antiarte, no sentido de uma recusa a todos<br />

os saberes específicos de um campo, <strong>Mekas</strong> defende um cinema<br />

liberto das regras do “bem fazer”, do “ar viciado do profissionalismo<br />

rançoso” 12 , aberto ao imprevisto e às surpresas dos planos fora de foco,<br />

tremidos, superexpostos ou subexpostos, resultantes de uma relação<br />

não profissional com a câmera, um cinema que acolha sua própria juventude.<br />

Não se trata de pleitear uma estética amadora em substituição<br />

a uma profissional, o que seria o mesmo que reivindicar a substituição<br />

de um cânone por outro, mas abrir o cinema a qualquer possibilidade,<br />

ao novo, àquilo que pode ser sempre inventado e para o qual não há nenhum<br />

modelo de comparação. Aí está, para <strong>Mekas</strong>, a única possibilidade<br />

de uma beleza genuína, verdadeira e não obstante revolucionária: “É<br />

o filme em 8 mm que irá nos salvar” 13 .<br />

Há, pode-se dizer, um otimismo demasiado retórico em uma afirmação<br />

como essa. Mas talvez seja o humor, o humor puro e simples de<br />

quem não se leva muito a sério mesmo nos seus momentos mais passionais<br />

e iluminados. O humor de quem sabe que qualquer ideia muito<br />

séria pela qual se está disposto a lutar é ameaçadora. No fim, a maior<br />

ameaça a qualquer liberdade vem sempre daquele que se leva demasiado<br />

a sério. É isso o que ele diz, com humor, em uma crônica de 27 de junho<br />

de 1967: “Se queremos progredir no campo da arte, nosso ego deve<br />

morrer tão logo entremos na sala de cinema. Fim do sermão” 14 .<br />

25<br />

***<br />

Essa retrospectiva foi concebida num esforço de contemplar todas as<br />

dimensões da “grande” obra de <strong>Mekas</strong>: seus textos, seus filmes e as atividades<br />

que empreendeu pelo Novo Cinema Americano. Assim, além<br />

12 Ver: A linguagem mutante do cinema, p. 70.<br />

13 Ver: Cinema em 8 mm como arte popular, p. 78.<br />

14 MEAS, MEAS, MEKAS, <strong>Jonas</strong>. Music and Cinema. In: Movie Journal: The Rise of the New American Cinema<br />

1959-1971. Nova York: Macmillan, 1972.

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