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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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obras. Eles são como cientistas. Outro dia, na Universidade Rockefeller,<br />

após a projeção do filme Arnulf Rainer [1960] de Kubelka, alguém<br />

perguntou: “Você acha que o filme iria parecer diferente se mudássemos<br />

alguns fotogramas de lugar?”. O que eu disse foi que nós não podemos<br />

brincar com as partituras de Beethoven ou com os fotogramas<br />

de Kubelka porque ali existem uma lógica de ferro e uma ordem. Sabemos<br />

que podemos memorizar a música. Kubelka diz que podemos<br />

memorizar filmes e arquitetura. Seja como for, você pode memorizar<br />

apenas aquilo que possui uma certa (pouco importa quão escondida)<br />

ordem, lógica, ritmo, andamento, estrutura. Arte é ciência, foi isso que<br />

eu disse. A intuição do artista é tão precisa quanto a estrutura de um<br />

átomo. A arte é tão precisa quanto a ciência. Como a ciência de um átomo.<br />

Poetas podem provocar mutações nos átomos.<br />

Continuo a me referir ao átomo por causa do que Richard Foreman<br />

disse outro dia. Oh, ele disse, eu sonho com uma arte, um teatro,<br />

um cinema que terá a mesma intensidade da descrição da física nuclear<br />

da estrutura de um átomo – ou algo com o mesmo efeito. Eu achava que<br />

< > de Michael Snow tinha algo dessa intensidade especial. Encontramos<br />

um aspecto mecânico que se situa para além da razão, para<br />

além da simples experiência estética. Eu continuo errante, perdoe-me,<br />

caro leitor: você certamente não esperaria que eu discorresse com clareza<br />

sobre assuntos que ainda não compreendi, esperaria? Estou apenas<br />

tentando entendê-los. O processo exato, como funciona uma obra<br />

de arte, irá sempre nos escapar. Sim, reagimos à forma do filme. Reagimos<br />

cinestesicamente, também, aos movimentos, à luz. Mas através<br />

da forma, penetramos mais profundamente no indescritível e no<br />

invisível: entramos numa zona de relações, de proporções. Não podemos<br />

colocar as mãos em cima. Como o átomo de Richard. Os cientistas<br />

falam de átomo, trabalham com o átomo, o dividem – e tudo no papel,<br />

através de fórmulas, da matemática – através das relações. Toda a arquitetura,<br />

me disseram, é uma questão de relações. Por isso é possível memorizar<br />

a arquitetura. Quando duas coisas são colocadas corretamente<br />

em relação (proporções e desproporções corretas), elas cantam. Entre<br />

os filmes que vejo, no subterrâneo [undergound] ou na superficíe, 90%<br />

não cantam de jeito nenhum. Eles nem mesmo zumbem. Eles sopram,

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