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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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dade ontológica do tempo. E olhar uma fotografia é sempre encontrar<br />

esse instante fugidio em que o presente acenou para o futuro enquanto<br />

era arrastado para o passado. Os filmes de <strong>Mekas</strong> lidam com essa experiência<br />

do fugidio, de um presente sempre passando, de um presente<br />

sempre passado. Eles celebram o presente, ao mesmo tempo em que<br />

instauram a nostalgia daquilo que passa. Coloca-se aí, já no seu modo<br />

de filmar, a tensão, fundadora de seu cinema, entre a experiência da<br />

perda e a celebração do presente e da beleza.<br />

Paraíso perdido<br />

Desde cedo, filmar constitui-se para <strong>Mekas</strong> como uma necessidade de<br />

construir uma memória futura em oposição ao terror de ser desapropriado,<br />

ou “arrancado”, como ele dirá logo no início de Lost Lost Lost, de seu<br />

passado e de sua casa. “Eu já perdi muito”, diz no mesmo filme, “mas<br />

agora eu tenho esses pedaços”. Pedaços de filmes, de memória. A angústia<br />

de ser despossuído de uma memória está colocada logo no início<br />

desse filme quando, introduzindo imagens da comunidade dos lituanos<br />

imigrantes que vivia no Brooklyn, uma cartela anuncia: “Eles sentavam<br />

lá, sem memórias”. Memórias de onde?: daquele lugar; da América. Pois<br />

as memórias dos lituanos, como as de <strong>Mekas</strong> naqueles primeiros anos,<br />

eram de um país para o qual eles não podiam retornar, um país perdido<br />

(senão para sempre, pelo menos enquanto Stalin estivesse vivo). Sua<br />

adaptação aos Estados Unidos está intimamente ligada à sua prática de<br />

filmar e ao fato de que essa prática lhe permite ter memórias para as<br />

quais ele possa retornar, ao contrário da Lituânia, fechada até o fim da<br />

União Soviética. O final do filme encerra essa adaptação com a conquista<br />

de sua memória coincidindo com a recuperação de sua identidade: sobre<br />

imagens feitas em uma visita à praia, acompanhado por Ken Jacobs,<br />

sua esposa, Flo, mais outros amigos, diz: “Ele se lembrou de outro dia,<br />

dez anos atrás. Ele se sentou nessa praia com outros amigos. As memórias,<br />

as memórias.”; e deslocando-se repentinamente da terceira para<br />

a primeira pessoa: “Mais uma vez, eu tenho memórias. Eu tenho lembranças<br />

desse lugar. Eu já estive aqui”. Nesse deslizamento da terceira<br />

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