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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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nada sobre isso, em certo sentido, a não ser aceitar esperando, e observando<br />

como alguns de nós são massacrados ou ficam loucos no meio do<br />

caminho. (Jacques Rivette, em seu belo filme Paris nos pertence [Paris<br />

nous appartient, 1958], que vocês verão nesta temporada no Cinema<br />

16, mostra que o mesmo está acontecendo na França: ele está em todo<br />

lugar, esse terror sem nome.)<br />

Alguns de nós tentam fazer alguma coisa. Mas acabamos fazendo<br />

mais bombas ou protestando contra elas. Contudo, quando estamos<br />

sentados sozinhos, e pensamos em silêncio, não sabemos de fato por<br />

que fazemos isso ou aquilo, ou contra o que e a favor do que estamos<br />

exatamente, ou qual é a verdadeira causa. Ainda assim, temos que fazer.<br />

Então, – onde eu estava mesmo? – esse filme (assim como a peça),<br />

essa nova arte sofredora e temperamental, não é de fato uma previsão<br />

do desastre, mas um sinal jubiloso de que existe um profundo desespero<br />

se processando em algum lugar dentro de nós – um sinal de que<br />

nem tudo é tão climatizado (como costumávamos dizer) e morto no<br />

homem –, que está aí para que saibamos que quanto mais profundo é o<br />

nosso desespero, mais perto ficamos da verdade, e da saída. Logo, The<br />

Connection – como a maioria da nova arte “niilista”, “dadaísta”, “escapista”,<br />

etc. – é uma arte positiva, que não mente, falseia ou finge sobre<br />

nós mesmos. Ela vai além da arte naturalista, pragmática e superficial,<br />

e mostra algo da essência.<br />

Nem todos estão prontos para ouvir ou sentir o que The Connection<br />

está dizendo, para ter a experiência do que o filme é – nem nós sabemos<br />

exatamente do que ele trata realmente. Cada um de nós se aterá a coisas<br />

diferentes nele. Esse filme, que é, em sua superfície, sobre nada, não<br />

apresenta nenhuma ideia, lida mais com o absurdo do que com o sentido,<br />

e não tem nenhuma ação ou drama particular; é um filme que sugere,<br />

intui as verdadeiras ideias, a verdadeira ação e o verdadeiro sentido.<br />

Existem muitas outras formas de dizer algo sobre os homens. Pode<br />

ser também verdade que The Connection não seja cinema puro (como<br />

não foi teatro puro) ou que seria mais bem filmado no Harlem, etc., etc.,<br />

mas isso tem pouco a ver com o que estou falando. E tampouco é de importância<br />

essencial. É através da variedade de formas artísticas e objetos<br />

artísticos – ambos perfeitos e imperfeitos – que a totalidade da exis-<br />

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