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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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Tal ideia se apossou de minha mente e dos meus sentidos tão profundamente<br />

que eu saí do teatro. Não queria saber mais nada do que<br />

aconteceria a seguir na peça; eu queria vê-la com a minha câmera. Eu<br />

tinha que filmar.<br />

Enquanto estava sentado lá fora, esperando que a peça terminasse,<br />

comuniquei minhas ideias a Judith e Julian Beck. Eles ficaram tão<br />

empolgados quanto eu. Decidimos fazer tudo imediatamente. Na verdade,<br />

não tínhamos outra escolha: eles precisavam deixar o teatro no<br />

dia seguinte. David e Barbara Stone, que foram ver a peça comigo, se deram<br />

conta de que também não tinham escolha: estavam presos à outra<br />

produção. “Eu suspeitei disso antes de vir”, disse Barbara. “Nunca mais<br />

vamos te levar em outra peça”, completou David.<br />

No dia seguinte consegui o filme e o equipamento. O teatro já havia<br />

sido trancado pelo proprietário. Entramos com o elenco e o equipamento<br />

dentro do teatro, através de uma abertura lateral por onde se<br />

passava carvão, tarde da noite. (Saímos do lugar do mesmo jeito, três<br />

ou quatro horas da manhã). Encontramos parte do cenário já desmontada.<br />

Os atores colocaram tudo de volta no lugar. Não havia tempo para<br />

qualquer teste de equipamentos ou luzes. A iluminação permaneceu<br />

a mesma de uma peça de teatro. Coloquei dois holofotes fortes nos assentos<br />

da primeira fila, de modo que eu pudesse me mover com bastante<br />

liberdade sem que eles aparecessem. Eu tinha três câmeras 16 mm.<br />

Câmeras Auricon (sistema único, com som diretamente no filme) com<br />

rolos de dez minutos. Eu fiquei trocando de câmera o tempo todo. A<br />

representação era interrompida a cada 10 minutos para trocar as câmeras,<br />

com a ação sendo retomada com alguns segundos de atraso à cada<br />

novo início. Eu filmei a peça em tomadas de 10 minutos, somando 12<br />

tomadas ao todo.<br />

Permaneci dentro da prisão, entre os atores, constantemente atravessando<br />

na frente deles, perturbando os movimentos e mises en scène<br />

usuais. Minha intenção não era mostrar a peça totalmente, mas captar<br />

tanto da ação quanto meus olhos “de repórter” conseguissem. Esse tipo<br />

de filmagem requer uma concentração exaustiva do corpo e do olho. Eu<br />

tinha de operar a câmera; tinha de ficar longe do caminho dos atores;<br />

tinha que olhar para o que estava acontecendo e ouvir o que estava<br />

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