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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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Não estou fazendo filmes, estou apenas filmando. O êxtase de filmar,<br />

apenas filmar a vida ao meu redor, o que vejo, aquilo a que reajo,<br />

aquilo a que meus dedos, meus olhos reagem, este momento,<br />

agora, este momento em que tudo está acontecendo, ah, que êxtase!<br />

228<br />

Contudo, entendo o êxtase de “apenas” filmar como uma descrição<br />

ontológica, bem como psicológica, do processo. <strong>Mekas</strong> sente êxtase<br />

ao filmar e seu modo de filmar é extático: ele reconfigura a temporalidade<br />

dos acontecimentos diante da sua câmera. Em vez de reduzir a imagem<br />

daqueles acontecimentos ao ritmo mecânico para o qual a máquina<br />

foi projetada, sua câmera os filma como ele os vê, de maneira extática;<br />

ou seja, numa intensa alternância microrrítmica entre compressão e dilação.<br />

A temporalidade extática de seus quadros únicos e “vislumbres”<br />

gestuais está a meio caminho entre a memória e o paraíso de momentos<br />

epifânicos. Se, como Emerson sugeriu, a etimologia liberta a “poesia-<br />

-fóssil” das palavras, podemos ler na palavra glimpse (vislumbre) do título<br />

tanto o seu glance (olhar) oblíquo, anguloso, sobre o objeto quanto<br />

o glimmer ou glow (brilho ou calor) do objeto atraindo o olho: a raiz<br />

g^hlend(h) abarca palavras para shining, gold, sheen, e ilumination (brilho,<br />

ouro, esplendor e iluminação).<br />

<strong>Mekas</strong> não parece estar de forma alguma ansioso para resolver as<br />

muitas aparentes contradições de suas intervenções verbais. Por exemplo,<br />

no capítulo 7, numa sequência em que sua jovem filha puxa seu nariz,<br />

ele parece disposto a ceder a autoridade epistemológica que vinha<br />

reivindicando à memória e ao cinema:<br />

Vocês podem me chamar de romântico... Eu não entendo. Nunca<br />

entendi, nunca vivi realmente no assim chamado mundo real.<br />

Eu vivi, vivi no meu próprio mundo imaginário, que é tão real<br />

quanto qualquer outro mundo, tão real quanto os mundos reais<br />

de todas as outras pessoas ao meu redor. Vocês também vivem<br />

em seus mundos imaginários. O que estão vendo é o meu, o meu<br />

mundo imaginário, que para mim não é em absoluto imaginário.<br />

Ele é real. É tão real quanto qualquer outra coisa sob o Sol. Então<br />

vamos continuar...

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