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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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A prática de registrar o mundo fenomenal numa maneira consoante<br />

com a ontologia única do meio, expressando ao mesmo tempo a<br />

subjetividade da maneira permitida pela discursividade verbal e a composição<br />

posteriores ao fato no diário escrito, levou <strong>Mekas</strong> a compreender<br />

a filmagem como disciplina emocional, técnica e, acima de tudo, visual:<br />

Fazer um diário em filme (registrado pela câmera) é reagir (com<br />

a câmera) imediatamente, agora, neste instante: ou fazemos o<br />

registro agora, ou não o fazemos nunca mais. Voltar e fazer a filmagem<br />

posteriormente exigiria uma reencenação, seja dos acontecimentos<br />

ou dos sentimentos. Para que o registro seja feito agora,<br />

no momento em que acontece, é necessário o domínio total das<br />

ferramentas usadas (neste caso, a câmera Bolex): ela precisa registrar<br />

a realidade à qual reajo e precisa também registrar o estado dos<br />

meus sentimentos (e todas as memórias) enquanto reajo. O que<br />

significa também que tive de cuidar de toda a estrutura (montagem)<br />

ali mesmo, durante a filmagem, na câmera. Todo o material<br />

que virem nos Diários está exatamente como foi feita pela câmera.<br />

(Film-Makers’ Cooperative Catalogue, 1989, p. 362)<br />

177<br />

É claro que a afirmação segundo a qual os diários montados preservam<br />

apenas composições espontâneas é enganadora. Até Walden,<br />

cuja produção está por trás destes comentários, omite boa parte do<br />

material registrado durante o período que o filme abrange, enquanto<br />

filmes posteriores (especialmente He Stands in a Desert) modificam<br />

a cronologia de maneira explícita e extensa; todos os filmes contêm<br />

legendas e títulos interpolados; e mesmo que a rejeição da edição seja<br />

interpretada como referência apenas à montagem intrassequencial, a<br />

adição de música e de trechos falados afetam substancialmente o material<br />

visual. Apesar destes poréns (que, tomados em conjunto, definem<br />

o filme-diário), é claro que, para <strong>Mekas</strong>, aquilo que está essencialmente<br />

em jogo no diário em filme jaz no momento da filmagem.<br />

A reconceitualização da filmagem como ato autotélico a define<br />

contra sua instrumentalidade na proteção do material para cenários<br />

pré-arranjados ou para a manipulação posterior na montagem: a filma-

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