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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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3 de setembro<br />

História do cinema, futuro do cinema<br />

126<br />

Já há algum tempo, por três, quatro anos, tenho passado por um<br />

período de revisão, de reavaliação de todos os filmes que vi anteriormente,<br />

há anos atrás, e que eu tomava por ótimos ou terríveis. E estou<br />

descobrindo que fui pessimamente influenciado por todos os livros de<br />

história do cinema. Estou descobrindo que a grande maioria dos livros<br />

de história de cinema (e a maioria de monografias e de coleções de crítica<br />

de cinema atuais) foi escrita após ter visto uma vez, ou no máximo<br />

duas, o filme. Enquanto nós, os novos críticos (Kelman, Sitney, Foreman,<br />

eu e, em parte, Sarris), não escrevemos nada de decisivo sem ter<br />

visto o filme cinco, dez, 20, 30 vezes. Então todos os livros de história<br />

do cinema escritos até hoje devem ser jogados na lixeira, eles não possuem<br />

valor algum, seu único valor é ser um documento de história social.<br />

Eles não tem nada a ver com a história da arte do cinema.<br />

Talvez as únicas vozes em que possamos confiar sejam nas vozes<br />

dos próprios cineastas. Não quando analisam os significados de seus<br />

filmes (aqui, a frase de Matisse – “Deveríamos cortar a língua dos artistas”<br />

– continua a ser verdadeira), mas quando dizem sobre como o<br />

filme foi feito, as etapas, o processo, os impulsos, as atitudes, alguns<br />

dos raciocínios e alguns outros assuntos que nos ajudam a entender o<br />

processo criativo de fazer filmes e que constituem as primeiras sementes<br />

de uma crítica das formas.<br />

Lá estávamos nós, no seminário de cinema Flaherty, começando a<br />

tentar aprender alguma coisa sobre o cinema, discutindo até uma hora<br />

da manhã. Era mais de uma hora quando fomos dormir. Era uma noite<br />

escura. Víamos as estrelas mas, no nosso entorno, a escuridão era total.<br />

Enquanto andávamos, olhando o céu e o contorno quase invisível do<br />

lago, de repente vimos uma forma escura sentada na estrada, na escuridão<br />

quase completa, eu quase passei por cima dela.<br />

Me agachei e reconheci a silhueta de uma jovem garota da Harpur<br />

College, uma das estudantes de Ken Jabobs. Ela estava sentada no chão<br />

no escuro, tinha uma Bolex nas mãos e estava ali imóvel e silenciosa<br />

como parte integrante da noite, e naquele momento ela clicou sua câ-

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