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primeira carta, estou preparado para responder com um firme e sonoro<br />
(nem precisando ser retumbante) NÃO!... ao menos estou renunciando<br />
a qualquer intenção nesse sentido; e, para equilibrar minhas recentes<br />
experiências com magia negra em L.A., tenho toda uma bateria de<br />
experiências em Nova York, etc., que clarificaram para mim a segunda<br />
tentação tão solidamente quanto a primeira era originalmente conhecida,<br />
como tal, nove ou dez anos atrás, quando conscientemente parei<br />
de manipular as vidas dos outros, mesmo em nome do Drama, afinal<br />
desisti do drama como essa forma de manipulação”. (Stan Brakhage, em<br />
carta a Michael McClure, maio, 1964.)<br />
5. Little Stabs at Happiness: Uma mulher sentada numa cadeira.<br />
Ela está sentada lá, e balança, para frente e para trás, para frente e para<br />
trás, sem que nada aconteça. Ela nem mesmo se move ou olha muito<br />
ao redor. É um belo dia de verão, em algum lugar no centro da cidade;<br />
poderia ser Orchard Street, ou Avenue B. O tempo passa, e ela balança,<br />
e nada mais acontece. Isso é demais. Mostre-nos algo da vida real, como<br />
Kurosawa, ou De Sica, ou mesmo Bergman. Deve estar ocorrendo Drama<br />
naquelas casas, naquelas ruas, naqueles dias de verão. Não estamos<br />
acostumados a tal paz interior, a tal silêncio, a não fazer “nada”. Sim,<br />
esta é uma das cenas mais tranquilas de todo o cinema, uma das cenas<br />
mais profundamente felizes, e mais simples – uma imagem que tenho<br />
levado na memória desde a infância, algo que nunca tinha voltado a ver,<br />
até que a vi em Little Stabs de novo.<br />
6. Yes: Um homem corre num campo com flores em seus ombros,<br />
em sua cabeça; ele corre, cai quando crianças o puxam pelas pernas, e<br />
eles rolam no chão, entre as flores.<br />
Hallelujah the Hills: Na floresta, entre as árvores, perto da fogueira<br />
eles dançam, embebidos dos últimos dias de verão, outono, ar livre,<br />
amizade – como dois felizes palhaços, e eles rolam no chão, e trocam<br />
golpes na barriga, engasgando de rir, completamente malucos.<br />
Ou outra imagem: No alto da estrada, na ampla paisagem de outono,<br />
no primeiro dia de neve, tudo branquinho, eles abrem os braços e<br />
gritam: AAADEEEEUUUUS! num gesto de tamanha exuberância e de<br />
tamanha felicidade indescritível que seu gesto permanece lá, impresso,<br />
o gesto de adeus mais bonito da tela.