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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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mes observou, “a direção passada do tempo” ou o sentimento de passado<br />

inerente às lembranças, pode não ser intrínseca ao cinema como <strong>Mekas</strong><br />

o concebeu, mas ele insere essa dimensão no seu filme ao repeditamente<br />

reconhecer a perspectiva temporal do momento de edição quando todas<br />

as filmagens são passado – algumas delas com décadas de idade. 6<br />

O título, reforçado por seus comentários over acentuados, insiste<br />

que lampejos de alegria iluminaram o contínuo passar de sua vida,<br />

“uma epifania depois da outra”, como David James descreve o estilo de<br />

<strong>Mekas</strong>. 7 A ênfase na brevidade desses momentos não apenas descreve<br />

seu modo característico de filmar, mas também sugere que os brilhos<br />

de beleza e felicidade se destacam contra um pano de fundo de angústia<br />

prolongada. No primeiro capítulo lemos a legenda: “Sobre um homem<br />

cujos lábios estão sempre tremendo de dor e sofrimento vividos<br />

no passado que só ele conhece” – de maneira significativa, uma imagem<br />

do cineasta, tocando o acordeão, imediatamente precede essa legenda.<br />

<strong>Mekas</strong>, como Orfeu, canta uma canção sem palavras sobre essas imagens<br />

e sobre as cenas subsequentes de chuva e raios. Ele ainda está cantando<br />

quando uma legenda mais episódica se segue:<br />

225<br />

Eu me lembro da manhã que passei por Avignon. O Nice Express<br />

cruzava a França. Acordei, e olhei pela janela, e vi a manhã. Era a<br />

manhã mais pastoral, mais pacífica que tinha visto desde a minha<br />

infância. Oh, a paz perdida, pensei. Em seguida adormeci de novo,<br />

um sono atormentado, doloroso, com estilhaços de lembranças. 8<br />

6 David E. James reconheceu a alegoria fundamental de Walden como o “jogo entre os fragmentos<br />

do passado e sua contemplação presente que informa o processo de composição.” JAMES, D. Ibid., p.<br />

176. [p. 203 dessa publicação]<br />

7 Ibid., p. 157. [p. 180 dessa publicação] “A câmera em constante viagem cria uma corrente<br />

contínua de impressões visuais, pousando numa epifania depois da outra – um rosto, uma xícara de<br />

café, um cacto, um pé, um cachorro se coçando, outro rosto, uma câmera de cinema.”<br />

8 Em Just like a Shadow ele oferece um comentário dessa experiência: “Quando se passa pelo que<br />

passei, as guerras, ocupações, genocídios, campos de trabalho forçado, campos de deslocados, e ficar<br />

deitado num vasto campo de batatas – nunca esquecerei a brancura das flores –, minha face voltada<br />

para a terra, depois de pular a janela enquanto soldados alemães seguravam meu pai contra o muro,<br />

arma em suas costas – então você não entende mais os seres humanos.” MEKAS, <strong>Jonas</strong>. Just Like a<br />

Shadow. Logos, 2004. www.logosjournal.com.

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