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ciais, quando seria mais lógico que a visão desse um salto e se libertasse<br />
da mediação da câmera, esta última é mais insistente. A “Movie Journal”<br />
recomenda que, quando não se tem película para filmar, é melhor<br />
fingir e continuar filmando, seguir olhando através da lente. O objetivo<br />
final não é a transcendência da câmera, e sim a identificação do sujeito<br />
humano com o aparato; é por isso que <strong>Ed</strong> Emshwiller é celebrado por<br />
querer “tornar-se ele mesmo uma câmera” (MEKAS, 1972, p. 387). E<br />
o olho não é um participante necessário, pois o próprio <strong>Mekas</strong> costuma<br />
filmar com a câmera na altura da cintura ou em outros momentos nos<br />
quais nem mesmo olha pelo visor.<br />
Tal projeto pode ser coerente dentro de uma estética construtivista<br />
como a de Vertov, fazendo parte de um programa geral de industrialização.<br />
Mas ele contradiz fundamentalmente o organicismo que de<br />
outra maneira informa a filosofia de <strong>Mekas</strong>, ocasionando momentos de<br />
cegueira, contradições que não podem ser articuladas nem explicitadas<br />
na teoria dele, mas que não podem ser inteiramente ocultadas na sua<br />
prática; finalmente e inevitavelmente elas forçam o diário em filme no<br />
sentido do filme-diário. Os vários contextos nos quais estas contradições<br />
operam podem ser melhor abordados por meio do papel desempenhado<br />
– na vida e no pensamento de <strong>Mekas</strong> – pela infância no pequeno<br />
vilarejo lituano de Semeniskiai.<br />
Como veremos, a narrativa central dos filmes-diário é a tentativa<br />
de recuperar este paraíso rural perdido, missão que tem vários componentes<br />
cujo isomorfismo e fungibilidade fornecem a imensa energia<br />
do mito de <strong>Mekas</strong>. O mito tem um componente psicanalítico: a recuperação<br />
da mãe; um componente social: a recuperação da comunidade<br />
orgânica do vilarejo; um componente ambiental: a recuperação da cena<br />
rural; e um componente filosófico-estético: a recuperação de uma prática<br />
cultural apropriada a estes. O modelo para tal prática não pode ser<br />
finalmente aquele da alta vanguarda modernista, que foi construído,<br />
tanto lógica quanto historicamente, em complementaridade antitética<br />
à cultura industrial. Em vez disso, só poderia ser a vanguarda antimodernista<br />
e antiesteticista – o momento do Dada – proposto como retorno<br />
às condições sociais que precederam tanto a industrialização quanto<br />
a hipostasiação kantiana/coleridgeana da arte que a industrialização