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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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seus diários. Se tivesse produzido uma commodity passível de uma comercialização<br />

real fora da comunidade de referência do seu diário – uma<br />

história encenada de sua vida, por exemplo, ou uma versão mais popular<br />

de algo como o Film Portrait [1971] de Jerome Hill (e a exibição remunerada<br />

de The Chelsea Girls [1966], de Andy Warhol, tornou a ideia da circulação<br />

maciça de filmes underground menos inconcebível em meados<br />

dos anos 60 do que em qualquer outra época) – então seu Walden teria<br />

realmente apresentado uma reação tão negativa à prática do diário quanto<br />

o Walden de Thoreau. Mas, na verdade, os paralelos estão incompletos.<br />

Embora o Walden de <strong>Mekas</strong> esteja disponível ao público para aluguel<br />

ou até compra, o modo de sua existência social se assemelha mais ao dos<br />

diários de Thoreau do que de seu Walden. Sua subjetividade extrema e<br />

complexidade formal sem precedentes garantiram que seu público seria<br />

pequeno e seu valor como commodity desprezível; e o filme permaneceu<br />

fora dos gêneros tanto da vanguarda esteticista quanto da indústria de<br />

filmes comerciais, apontado contra os diferentes tipos de reificação que<br />

cada um deles acarreta. Enquanto Walden sustenta muitas das funções<br />

da produção amadora de filmes, ele avançou no sentido de uma discursividade<br />

bastante indisponível para o diário em filme e, com isto, no sentido<br />

de uma função diferente na vida de <strong>Mekas</strong>.<br />

Stanley Clavell destacou o peculiar paralelo entre escrever e viver<br />

na obra de Thoreau por meio do qual as ações descritas em Walden reencenam<br />

metaforicamente o ato da escrita:<br />

Cada chamado – aquilo que o escritor... quer dizer ao falar em “campo”<br />

de ação ou trabalho – é isomórfico em relação aos demais. É por<br />

isso que construir uma casa e capinar e escrever e ler (e, poderíamos<br />

acrescentar, caminhar e preparar comida e receber visitas e martelar<br />

um prego e vasculhar o gelo) são alegorias e medidas umas das outras.<br />

Toda construção verdadeira e somente ela é edificante. Todas<br />

as ações edificantes e somente elas são dignas da habitação humana.<br />

Caso contrário não merecem a vida. Se a sua ação, neste campo, não<br />

resistir a tal medida, trata-se de um sinal de que o campo não é seu.<br />

Esta é a garantia do escritor de que sua escrita não é uma substituta<br />

para a vida, e sim sua maneira de processá-la. (1972, p. 60)

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