07.02.2017 Views

Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

Jonas Mekas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

140<br />

sionalmente você pode pensar que talvez fosse mais bonito lá, na velha<br />

pátria. Mas não sofre por isso.<br />

Por sua vez, há outro grupo de pessoas que são arrancadas de suas<br />

casas à força – seja por força de outras pessoas ou por força das circunstâncias.<br />

Quando você é arrancado dessa maneira, sempre quer voltar<br />

para casa, o sentimento fica, nunca desaparece. Você pensa na sua antiga<br />

casa, a romantiza, isso cresce e cresce. Você tem de vê-la de novo,<br />

voltar lá e começar tudo do princípio. Você tem de deixar a sua casa pela<br />

segunda vez. Então o sentimento começa a mudar. Por isso em Walden<br />

eu filmava Nova York, mas era sempre como se filmasse a minha antiga<br />

casa. Então, agora, depois que voltei, tudo isso muito provavelmente<br />

começará a mudar.<br />

Ken Jacobs me disse que Reminiscences lhe interessou a princípio<br />

porque representa a experiência de uma Pessoa Deslocada 1 , uma experiência<br />

que ele nunca teve, mas pela qual se sente atraído, devido à sua<br />

própria infância em Williamsburg, Brooklyn, que praticamente não<br />

existe mais. Então, temos, nos Estados Unidos, uma terceira categoria<br />

de <strong>Via</strong>jante: aquele cuja casa é constantemente varrida de sob seus pés<br />

pelo moderno código de construção.<br />

Tenho lido muito ultimamente. Escolhi Wilhelm Meisters Wanderjahre<br />

2 , de Goethe, sobre seus anos de viagem. Eu o tinha lido há<br />

muitos e muitos anos atrás. Mas agora comecei a lê-lo e ele adquiriu um<br />

significado completamente diferente para mim. Enquanto Wilhelm<br />

viaja e conhece pessoas diferentes, vê lugares diferentes, comecei a<br />

pensar sobre meus diários em filme. Comecei a ver conexões interessantes.<br />

Ele também visita lugares e conhece pessoas, vai a monastérios,<br />

como fiz na Áustria. Mas ele viaja por escolha própria. Ele decidiu<br />

1 No original Displaced Person, expressão utilizada no final da II Guerra Mundial pelas forças aliadas<br />

para designar os quase oito milhões de sobreviventes dos campos de trabalho forçado, prisioneiros<br />

de guerra e refugiados políticos (na sua maioria opositores do regime soviético) que eles acabavam<br />

de libertar. Em 1946, seis milhões haviam sido repatriados – expontaneamente ou à força –, os outros<br />

dois milhões, dentre os quais muitos lituanos, permaneciam nos “Displaced Person camps”, ou “D.P.<br />

camps”. Sempre que o sentido não for prejudicado, usaremos o termo mais familiar à nossa língua:<br />

“refugiado” – apenas quando for importante privilegiar a singularidade histórica do “displaced person”,<br />

como é o caso aqui, usaremos “deslocado” ou “pessoa deslocada”. [N. E]<br />

2 Lançado no Brasil com o título Os anos de aprendizado de Wilhelm Meisters pela <strong>Ed</strong>itora 34.<br />

[N. E]

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!