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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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II - O filme-diário<br />

O passado não pode ser apresentado.<br />

Thoreau, A Week on the Concord and Merrimack Rivers<br />

186<br />

Se a prática cinematográfica madura de <strong>Mekas</strong> se tornou possível quando<br />

ele concebeu como prioritárias a estética e a ética de seu diário em<br />

filme em relação a todo projeto de filme ao qual viesse a se dedicar, um<br />

movimento contrário esteve envolvido em sua decisão de levar seleções<br />

montadas desse material como obras de arte autônomas – como filmes<br />

– a instituições públicas de cinema, mesmo as instituições informais e<br />

relativamente não alienadas de vanguarda. Enquanto seu uso do filme<br />

para a percepção privada tinha rejeitado a história do meio como prática<br />

pública, os filmes-diário retornaram à esfera pública. Fossem quais fossem<br />

os motivos pessoais que o influenciaram a mudar da prática para<br />

o produto desta maneira, a decisão não pode ser separada da questão<br />

política da forma que um cinema em genuína oposição ao capital poderia<br />

assumir. A afirmação feita por <strong>Mekas</strong> na narração de He Stands in a<br />

Desert, segundo a qual este seria “um filme político”, pode sugerir uma<br />

continuidade com os filmes antiguerra de suas primeiras ambições,<br />

mas também manifesta uma noção diferente de política.<br />

A decisão de produzir um artefato cinematográfico continha um<br />

gesto duplo. De um lado, quebrava o compromisso do diário com o<br />

tempo presente e o processo de percepção, quebra à qual outros cineastas<br />

resistiram em crises semelhantes: Jack Smith, por exemplo, tirou<br />

seus filmes de circulação para protestar contra aquilo que via como<br />

institucionalização e, portanto, traição da vanguarda, processo no qual<br />

<strong>Mekas</strong> foi, é claro, fundamental. Por outro lado, ao reempregar em público<br />

alguma forma das inovações de composição do diário, seu caráter<br />

utópico e recalcitrante, <strong>Mekas</strong> expandiu significativamente as possibilidades<br />

culturais do meio, apresentando novas funções sociais para ele.<br />

Estas tensões habitam e determinam o próprio Walden. Trazem-nos<br />

mais uma vez de volta a Thoreau, mas, agora, a um padrão de semelhanças<br />

e diferenças entre ele e <strong>Mekas</strong>, padrão determinado em parte pelas<br />

condições materiais diferentes de seus respectivos suportes e, em parte,

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