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Volume 3 - Jonas Mekas - Via: Ed. Alápis

Jonas Mekas

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go diário de aproximadamente 1.200 minutos, no qual teríamos nada<br />

menos que 63 anos da vida de <strong>Mekas</strong>. Que se saiba, nenhum realizador<br />

levou tão a sério o convite que Béla Balázs lançou em 1930 para as gerações<br />

futuras:<br />

Reter de modo constante em um filme as impressões e as experiências<br />

vividas de um ser humano. Nenhuma fábula artificial e<br />

no entanto uma sequência de eventos vividos na qual a existência<br />

aparece. Uma personalidade que só é visível pela sua maneira de<br />

ver. Não seria isso a possibilidade de um diário íntimo, de uma autobiografia<br />

filmada? Um gênero que os cineastas amadores devem<br />

inventar e que poderia ter uma enorme importância documental,<br />

assim como os diários e autobiografias escritas. Ter todos os dias a<br />

câmera ao alcance da mão por 20, 30 anos. Não apenas para captar<br />

os belos espetáculos e as coisas interessantes, mas também os desgostos,<br />

as emoções. Como um diário íntimo. O caminho da vida<br />

como montagem. 3<br />

14<br />

Em <strong>Mekas</strong>, esse “caminho da vida como montagem” é uma enorme<br />

colcha de trama solta e vazada composta por momentos fugidios,<br />

breves registros de paisagens, celebrações, rostos e lugares que o tocaram<br />

em algum determinado momento. Da vida de <strong>Mekas</strong> temos muito<br />

pouco. Temos seu rosto, sua voz com seu sotaque inconfundível acrescida<br />

durante a edição, temos imagens de páginas de seu diário escrito,<br />

mas sabemos pouco ou quase nada dos movimentos que regem sua intimidade,<br />

seu casamento ou a vida de seus filhos.<br />

Essa obstinação em filmar seu cotidiano durante tanto tempo não<br />

seria tão surpreendente se não viesse acompanhada de uma potente investigação<br />

formal perseguida ao longo dos anos. É importante chamar<br />

a atenção para esse aspecto da obra de <strong>Mekas</strong>, sobretudo nesse momento<br />

em que os filmes-diário e as investigações de ordem autobiográfica<br />

configuram-se cada vez mais como um “gênero” atraente tanto para jovens<br />

cineastas quanto para o público. Não cabe aqui levantar os motivos<br />

3 BALÁZS, Béla. L’esprit du cinema. Paris: Petite Bibliothéque Payot, 2011. p. 270.

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