Untitled - Grumo

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D o s s i e r
muito machista. Esse machismo é que não me deixa muito à vontade no uni-
verso gay. É um mundo muito efeminado, muito desmunhecado pro meu
gosto. Não que eu vá discriminar ou censurar alguém por ser efeminado, mas
não posso aceitar isso pra mim. Estou lembrando agora de Nélson Rodrigues.
Ele transgredia, denunciava, punha o dedo na ferida e era o tempo todo a
imagem de um reaça, de um cara conservador, intolerante. Eu me sinto mais
ou menos assim. Sou um paradoxo.
Você pode até se dizer um moralista, mas jamais um puritano.
Glauco — Exato. Para chegar ao moralismo a gente tem que pas-
sar pela perversão e pela transgressão. Moralismo com puritanismo é um falso
moralismo. O moralismo que passa pela per versão está forçando a reflexão.
Vendo grande parte da poesia que está se fazendo hoje, até a
dos mais jovens, dá impressão de uma volta à uma Era Vitoriana. Tudo
muito bem comportado. Nós começamos a conversa falando da literatu-
ra brasileira apartir de Gregório da Matos, já com a sacanagem, o ero-
tismo, a perversão como uma coisa clássica, que aparece já na Roma
antiga, na Grécia, chegando até hoje no cordel, na literatura popular
brasileira...
Glauco — Isso, bem lembrado.
E a intelectualidade brasileira parece totalmente impermeável.
A intelectualidade brasileira é puritana?
Glauco — Não é só a brasileira, não. Recentemente tomei con-
hecimento de uma pesquisa que revela que a atividade sexual vai diminuin-
do à medida que a pessoa tem uma atividade intelectual mais intensa. No
meio acadêmico as pessoas se queixam de pouca atividade sexual. Existe a
punheta intelectual. É uma coisa meio compensatória.
É, eu digo puritanismo nesse sentido, como uma visão de
mundo inclusive. Porque muitos artistas se pretendem transgressores na
linguagem mas possuem uma visão de mundo bastante cabacinho,
inocente, o que se reflete em suas obras.
Glauco — É verdade. Entendo o que você quer dizer.