Untitled - Grumo
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energia vital que transcende a materialidade. Apesar das religiões clássicas,<br />
como o cristianismo, o judaísmo, abominarem a carnalidade, penso que está<br />
na libido a ponte entre o animal que nós somos e o espiritual que nós quer-<br />
emos ser.<br />
Isso é estranho na tua personalidade, na tua obra. Você acabou<br />
de falar que é um racionalista, que poema é uma coisa cerebral.<br />
Glauco — É por isso que estou dizendo que sou um paradoxo.<br />
Estou trabalhando sempre com coisas muito antagônicas — há sempre uma<br />
camisa de força e o desejo de me libertar.<br />
Mas que sinais você tem desse misticismo?<br />
Glauco — Tenho pesadelos diários. Esses pesadelos coincidem<br />
com períodos de insônia. Sonho com a visão e com a cegueira. Sonho col-<br />
orido e lembro que estou cego. Então acordo assustado e entro num estado<br />
masturbatório, até para poder relaxar. No auge desse processo masturbatório,<br />
dentro desse contexto de pesadelo e de insônia, no momento em que estou<br />
com energias muito fortes sendo processadas, consigo trabalhar mentalmente<br />
o desejo de que algumas coisas aconteçam. E elas vão se concretizando.<br />
Caramba!!! O que, por exemplo?<br />
Glauco — Uma série de realizações pessoais. E uma espécie de<br />
telepatia, de influência no comportamento de outras pessoas. É uma forma<br />
meio mística de trabalhar. Isso não tem limite. Posso pesquisar empirica-<br />
mente até o infinito. E também não tem regra. A religião é sempre regra, mas<br />
eu fujo de qualquer dogmatismo religioso. Sou um solitário. Uma espécie de<br />
franco-atirador nessa questão. Agora que estou cego, tenho muito tempo<br />
para progredir nesse campo. Tenho umas décadas ainda para experimentar.<br />
E a criação artística, como ficou após a cegueira?<br />
Glauco — Lógico que se puder continuar fazendo alguma coisa do<br />
que eu fazia, vou fazer. Alguma poesia que possa memorizar e ditar para as<br />
pessoas, como os haikais.<br />
E você tem feito?<br />
Glauco — De vez em quando. Algumas letras de música, alguns haikais.<br />
D o s s i e r<br />
Mas você tem interesse, ainda é um impulso forte?<br />
Glauco — Não é uma coisa que seja uma necessidade como a<br />
fome, o sono ou o sexo.<br />
*Ademir Assunção es poeta y editor. Entre sus libros se pueden mencionar<br />
Zonabranca. Actualmente edita la revista Coyote