Untitled - Grumo
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grumo / número 02 / octubre 2003<br />
O menino proletário- Osvaldo Lamborghini<br />
Assim que começa a dar seus primeiros passos na vida, o menino proletário<br />
sofre as conseqüências de pertencer à classe explorada. Nasce num quarto<br />
caindo aos pedaços, geralmente com uma imensa herança alcoólica no<br />
sangue. Enquanto a autora dos seus dias joga o menino no mundo, com a<br />
ajuda de uma curandeira velha e corrompida, o pai, o autor, entre vômitos<br />
que abafam os gemidos lícitos da parturiente, enche a cara com um vinho<br />
mais espesso que a imundice da sua miséria.<br />
Fico feliz por não ser operário, por não ter nascido num lar proletário.<br />
O pai bêbado e sempre à beira do desemprego bate no seu menino com uma<br />
corrente de bater, e quando fala com ele é só para lhe inculcar idéias assassi-<br />
nas. Desde menino, o menino proletário trabalha, pulando de bonde em<br />
bonde para vender seus jornais. Na escola, que ele nunca acaba, é diariamente<br />
humilhado pelos seus companheiros ricos. No seu lar, esse antro repulsivo,<br />
assiste à prostituição da sua mãe, que se deixa arrombar pelos comerciantes<br />
do bairro para conservar o fiado.<br />
Na minha escola tínhamos um, um menino proletário.<br />
Stroppani era seu nome, mas a professora do primário apelidara-o de<br />
Estropiado! Aos pontapés levava o Estropiado! para a diretoria cada vez que,<br />
filtrado pela fome, Estropiado! não conseguia entender suas explicações. Nós<br />
nos divertíamos à beça.<br />
(Traducción: Paloma Vidal)<br />
No existe ninguna traducción de "El niño proletario" al portugués, teniendo en cuenta que el texto en castel-<br />
lano ya estaba en Internet decidimos intentarlo.<br />
Evidentemente, a sociedade burguesa se compraz em torturar o menino pro-<br />
letário, essa baba, essa lar va criada no meio da idiotice e do terror.<br />
Com o decorrer dos anos, o menino proletário se transforma em homem<br />
proletário e vale menos que uma coisa. Pega sífilis e, logo que pega, sente o<br />
impulso irresistível de se casar para perpetuar a doença através das gerações.<br />
Como a única herança que pode deixar são suas chagas, jamais deixa de fazê-<br />
lo. Faz quantas vezes pode a besta de duas cabeças com sua esposa ilícita e,<br />
assim, graças a uma alquimia que ainda não consegui entender (ou que talvez<br />
nunca consiga), seu sêmen se transforma em venéreos meninos proletários.<br />
Dessa maneira, fecha-se o círculo, completa-se exasperadamente.<br />
Estropiado! com a calça presa por apenas um suspensório de pano e os jor-<br />
nais debaixo do braço, vinha caminhando na nossa direção sem nos ver, três<br />
meninos burgueses: Estevão. Gustavo, eu.<br />
A execração dos operários, nós também a levamos no sangue.<br />
Gustavo adiantou a roda da sua bicicleta azul e assim ocupou toda a calçada.<br />
Estropiado! teve que parar e olhou para nós com os olhos arregalados, inda-<br />
gando com o olhar a qual humilhação seria submetido dessa vez. Nós tam-<br />
bém ainda não sabíamos, mas para começar incendiamos seus jornais e arran-<br />
camos do fundo acabado dos seus bolsos as moedas recebidas. Estropiado!<br />
olhava para nós inquirindo com o rosto branco de terror<br />
oh! por essa cor branca de terror nos rostos odiados, nas caras operárias mais<br />
odiadas, por vê-lo aparecer sem desaparição, nós teríamos doado nossos palá-<br />
cios multicolores, a atmosfera que nos envolvia de dourado.<br />
1 4 4]<br />
Com empurrões e chutes, mergulhamos o Estropiado! no fundo de um fosso<br />
de água escassa. Ficou ali, chafurdando de bruços, com a cara manchada de<br />
barro, e. Nosso delírio só fazia aumentar. A cara de Gustavo aparecia con-<br />
traída por um espasmo de agônico prazer. Estevão pegou um pedaço cortante<br />
de vidro triangular. Nós três mergulhamos no fosso. Gustavo, com o braço<br />
erguido, o vidro triangular na sua extremidade, aproximou-se do Estropiado!<br />
e olhou para ele. Eu me aferrava aos meus testículos com medo do meu<br />
D o s s i e r