Untitled - Grumo

More documents

Recommendations

Info

[1 7 3 * Helena A. Vieira nasceu no Rio de Janeiro em 1970. É formada em dança con- temporânea e bacharel em Artes-Cênicas. Co-fundadora do projeto universitário "Teatro nas prisões", em que atua como diretora desde 1997. C r ó n i c a s
grumo / número 01 / marzo 2003 Uma carioca em buenos aires Leticia Isnard* Acordo com palavras, idéias, frases latejando em minha cabeça. Vencida, desis- to. Acendo a luz e tomo nota. Ao fim de duas semanas em Buenos Aires, onde vim fazer trabalho de campo para uma pesquisa sobre a memória da ditadura no teatro contemporâneo, volto pra casa com muitas impressões. Acompanhei um ato em memória dos mortos pela repressão policial em d eze m b ro último, quando estourou a crise econômica e política na Argentina; vi algumas "abuelas" da Plaza de Mayo, com seus paninhos bran- cos nas cabeças e os nomes de seus desaparecidos políticos; vi um filme sobre a agrupação H.I.J.O.S., filhos de desaparecidos da ditadura militar; vi peças sobre a carnificina da tragédia nazista do último regime ditatorial argentino. Estou exausta. Penso: que triste a história deste país. Deus me livre, ser argentina. Ainda bem que sou brasileira. CORTE: Duas crianças brincando num parquinho com tanques e soldadin- hos de chumbo. Criança argentina: Meu país tá pior que o seu! Criança brasileira: Hm! Duvido! Pior por que? A gente tem inflação! Criança argentina: A gente também voltou a ter! Criança brasileira: A gente teve um Getúlio! Criança argentina: A gente teve um Perón! Criança brasileira: Hm, não vale... A gente teve um Sarney! Criança argentina: A gente teve um Alfonsín! Criança brasileira: A gente teve um Collor! Criança argentina: A gente teve um Menem! Criança brasileira: A gente teve um Itamar! Criança argentina: A gente teve um Cavallo! Criança brasileira: A gente teve ditadura! Criança argentina: A gente também! E foi muuuito pior do que a sua! Criança brasileira: Foi nada! Durou só sete anos! A nossa durou vinte, tá?! Vinte anos! Duas décadas! Criança argentina: Ah, mas a nossa matou muuuito mais gente! Trinta mil desaparecidos! Trinta mil! E você nem imagina como! Criança brasileira: Mas a gente tem uma polícia corrupta e assassina! Criança argentina: Hm, grande coisa, a gente também! Criança brasileira: A gente tem pobreza! Criança argentina: A gente também! Criança brasileira: A gente tem miséria! Criança argentina: A gente tam... Criança brasileira: A gente não tem saúde e nem educação! Criança argentina: A gente também... Criança brasileira: A gente pula mendigo na rua! A gente tá assim ó, de cri- ança bandida! A gente tem violência! Muuuita violência! Muuuito mais crime! CORTA: Estava partindo triste, com pena dos argentinos que têm uma história tão cruel, triste e vergonhosa. Mas e a nossa história? É diferente? 1 7 4] É. Somos menos sérios. Não nos levamos a sério. Nossas feridas abertas não sangram como as deles. Botamos um esparadrapo, tomamos um analgésico e vamos pular carnaval. Chega de sofrer. Lembrar é sofrer. Pensar é sofrer. C r ó n i c a s
Page 3 and 4:
grumo / número 01 / marzo 2003 4]
Page 5 and 6:
grumo / número 01 / marzo 2003 Bue
Page 7 and 8:
grumo / número 01 / marzo 2003 Ín
Page 11 and 12:
grumo / número 01 / marzo 2003 V a
Page 13 and 14:
grumo / número 01 / marzo 2003 Mod
Page 15 and 16:
grumo / número 01 / marzo 2003 Ava
Page 17 and 18:
Page 19 and 20:
Page 21 and 22:
Page 23 and 24:
Page 25 and 26:
grumo / número 01 / marzo 2003 Aut
Page 27 and 28:
grumo / número 01 / marzo 2003 Man
Page 29 and 30:
Page 31 and 32:
Page 33 and 34:
Page 35 and 36:
Page 37 and 38:
Page 39 and 40:
Page 41 and 42:
grumo / número 01 / marzo 2003 Pre
Page 43 and 44:
Page 45 and 46:
Page 47 and 48:
Page 49 and 50:
Page 51 and 52:
Page 53 and 54:
grumo / número 01 / marzo 2003 Glo
Page 55 and 56:
grumo / número 01 / marzo 2003 Glo
Page 59 and 60:
grumo / número 01 / marzo 2003 P o
Page 61 and 62:
grumo / número 01 / marzo 2003 Tam
Page 63 and 64:
Page 65 and 66:
Page 67 and 68:
Page 69 and 70:
Page 71 and 72:
Page 73 and 74:
grumo / número 01 / marzo 2003 Nue
Page 75 and 76:
Page 77 and 78:
Page 79 and 80:
Page 81 and 82:
Page 83 and 84:
Page 87 and 88:
grumo / número 02 / octubre 2003 D
Page 89 and 90:
grumo / número 02 / octubre 2003 L
Page 91 and 92:
grumo / número 02 / octubre 2003 N
Page 93 and 94:
grumo / número 01 / marzo 2003 Nes
Page 95 and 96:
Page 97 and 98:
Page 99 and 100:
Page 101 and 102:
Page 103 and 104:
Page 105 and 106:
grumo / número 02 / octubre 2003 D
Page 107 and 108:
grumo / número 01 / marzo 2003 Doi
Page 109 and 110:
grumo / número 01 / marzo 2003 Doi
Page 111 and 112:
grumo / número 01 / marzo 2003 Art
Page 113 and 114:
Page 115 and 116:
Page 117 and 118:
grumo / número 02 / octubre 2003 G
Page 119 and 120:
grumo / número 01 / marzo 2003 Gla
Page 121 and 122: grumo / número 01 / marzo 2003 Gla
Page 127 and 128: grumo / número 01 / marzo 2003 Son
Page 129 and 130: grumo / número 01 / marzo 2003 Son
Page 131 and 132: grumo / número 02 / octubre 2003 E
Page 133 and 134: grumo / número 01 / marzo 2003 Efe
Page 135 and 136: grumo / número 02 / octubre 2003 A
Page 139 and 140: grumo / número 01 / marzo 2003 El
Page 143 and 144: grumo / número 02 / octubre 2003 O
Page 145 and 146: grumo / número 01 / marzo 2003 O m
Page 147 and 148: grumo / número 02 / octubre 2003 L
Page 149 and 150: grumo / número 01 / marzo 2003 La
Page 169 and 170: grumo / número 01 / marzo 2003 C r
Page 171: grumo / número 01 / marzo 2003 O d
Page 175 and 176: grumo / número 01 / marzo 2003 Uma
Page 179 and 180: grumo / número 01 / marzo 2003 C r
Page 181 and 182: grumo / número 01 / marzo 2003 Com
Page 183 and 184: grumo / número 01 / marzo 2003 Com
Page 185 and 186: grumo / número 01 / marzo 2003 Rea
Page 187 and 188: grumo / número 01 / marzo 2003 Rea
Page 189 and 190: grumo / número 01 / marzo 2003 San
Page 191 and 192: grumo / número 01 / marzo 2003 Cic
Page 193 and 194: grumo / número 01 / marzo 2003 Cic
Page 195 and 196: grumo / número 01 / marzo 2003 Col
show all

Untitled - Grumo

Create successful ePaper yourself

Delete template?

Save as template?