Untitled - Grumo
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próprio prazer, temeroso do meu próprio ululante, agônico prazer. Gustavo<br />
cortou a cara do menino proletário de cima a baixo e depois aprofundou lat-<br />
eralmente os lábios da ferida. Estevão e eu ululávamos. Gustavo segurava o<br />
braço do vidro com a outra mão para aumentar a incisão.<br />
Não desfalecer, Gustavo. Não desfalecer.<br />
Queríamos morrer assim, quando o gozo e a vingança se penetram e chegam<br />
à sua culminação.<br />
Porque o gozo chama o gozo, chama a vingança, chama a culminação.<br />
Porque Gustavo parecia, ao sol, exibir uma espada espelhada com fulgores<br />
que feriam nossos próprios olhos e nossos próprios órgãos do gozo.<br />
Porque o gozo já estava decretado ali, por decreto, nessa calça presa por ape-<br />
nas um suspensório de pano cinza, imundo e desfiado.<br />
Estevão arrancou-o e ficaram à vista as nádegas sem cueca, amargamente<br />
desnutridas, do menino proletário. O gozo estava ali, já decretado, e Estevão,<br />
Estevão arrancou de uma só vez o suspensório imundo. Mas foi Gustavo que<br />
pulou em cima dele primeiro, o primeiro que arremeteu contra o corpinho<br />
do Estropiado!, Gustavo, que nos lideraria mais tarde na idade madura, todos<br />
estes anos de fracassada, estropiada paixão: ele primeiro, cravou primeiro o<br />
vidro triangular onde começava o traseiro de Estropiado! e prolongou o corte<br />
natural. O sangue derramou-se para cima e para baixo, iluminado pelo sol, e<br />
o buraco do ânus ficou úmido sem esforço facilitando o ato que preparáva-<br />
mos. E foi Gustavo, Gustavo quem o atravessou primeiro com seu falo,<br />
enorme para sua idade, afiado demais para o amor.<br />
Estevão e eu nos contínhamos asperamente, com as gargantas bloqueadas por<br />
um silêncio de ansiedade, desespero. Estevão e eu. Com os falos acesos nas<br />
D o s s i e r<br />
mãos esperávamos e esperávamos, enquanto Gustavo dava pulos que asso-<br />
vinavam o Estropiado! e o Estropiado! não conseguia gritar, porque sua boca<br />
estava firmemente afundada no barro pela mão forte militari de Gustavo.<br />
O estômago de Estevão teve contrações por causa da ansiedade e em seguida<br />
pela arcada expulsou algo do estômago, algo que caiu aos meus pés. Era um<br />
esplêndido conjunto de objetos brilhantes, ricamente ornamentados, bril-<br />
hantes ao sol. Abaixei-me, incorporei-o ao meu estômago, e Estevão enten-<br />
deu minha irmanação. Jogou-se nos meus braços e eu abaixei as minhas<br />
calças. Pelo ânus evacuei. Expulsei uma massa luminosa que cegava com o<br />
sol. Estevão a comeu e nos seus braços irmanados me joguei.<br />
Enquanto isso Estropiado! se afogava no barro, com seu ânus opaco rasgado<br />
pelo falo de Gustavo, que por fim teve seu gozo com um alarido. A inocên-<br />
cia do prazer justiceiro.<br />
Estevão e eu nos precipitamos sobre o corpo imundo e abandonado. Estevão<br />
enterrou nele o falo, recôndito, fecal, e eu perfurei seu pé com um punção<br />
atravessando a sola de corda da alpargata. Mas não me contentava triste-<br />
mente com isso. Cortei um a um seus dedos imundos dos pés, fedorentos dos<br />
pés, que já não lhe serviriam de nada. Nunca mais corridinhas, corridinhas e<br />
saltos de bonde em bonde, bondes amarelos.<br />
Calculava minha vez, mas já não queria penetrá-lo pelo ânus.<br />
"Eu quero uma chupada", rangi.<br />
Estevão exauria-se nos últimos arquejos. Eu esperava que Estevão terminasse,<br />
que a cara do Estropiado! se erguesse do barro para que o Estropiado! chu-<br />
passe meu falo, mas devia entreter a espera, me armar na tardança. Daí todas<br />
as coisas que fiz a ele, na tarde de sol minguante, azul, com o punção. Abri