Untitled - Grumo
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grumo / número 01 / marzo 2003<br />
Comentário sobre a biografia do polaco maldito<br />
"aconteceu numa tarde de sábado" – também os gestos do tropicalista, quan-<br />
do ele chegou na casa dos Leminski, em Curitiba. Ao ser surpreendido pela<br />
visita do Caetano e da Gal, o Paulo, que se exercitava equilibrando-se no<br />
muro de sua casa, deu um salto até o chão. Toninho Vaz registra, ainda, as<br />
suas próprias impressões acerca do impacto deste encontro na vida de<br />
Leminski:<br />
O polaco encontrava os embaixadores dos trópicos e suas doutrinas de praz-<br />
er, capazes de derreter qualquer puritanismo ou ascetismo de imigrante (...).<br />
(p.163)<br />
Como amigo pessoal do personagem de sua biografia, Toninho Vaz conduz<br />
suas palavras também por relatos de sua vida. Assim, a sua convivência pes-<br />
soal com outros poetas brasileiros, como por exemplo com o baiano Waly<br />
Salomão, funcionou para aproximar o Waly do Leminski e catalizar aquele<br />
momento cultural em que viviam.<br />
Para Waly, este encontro representou a superação de muitas barreiras (...),<br />
inclusive a geográfica. Havia algo de científico nesta alquimia (...). Pasamos<br />
um tarde andando pela cidade praticamente sem destino, vagando entre um<br />
bar e outro. O Waly dizia: 'Esta é a melhor maneira de se conhecer um lugar.'<br />
(...) A tarde transcorreu alegre para todos. O Paulo era, na mesa do bote-<br />
quim, o apresentador oficial do folclore da cidade (...). (p. 196)<br />
Devido a essas passagens, marcadas por seus depoimentos pessoais, Toninho<br />
Vaz parece evidenciar o tom de intimidade que atravessa o seu livro. Por esse<br />
motivo, cabe aqui uma referência sobre a teoria dos Estudos do Discurso.<br />
Segundo a Análise do Discurso, há, nas condições de produção de todo dis-<br />
curso, as intenções do autor do discurso. Sendo assim, é possível inferir, sobre<br />
as intenções do autor da biografia de Leminski, que, como amigo do per-<br />
sonagem de sua briografia, ele intenciona, logo nas notas intodutórias de seu<br />
livro, deixar claro que Leminski "tinha algo fora do comum, algo de louco"<br />
e que ele (Leminski) exercera influências devisivas na carreira jornalística de<br />
Toninho Vaz.<br />
E a biografia que ele escreveu, aceitando a sugestão da Alice Ruiz S., que<br />
viveu com o Paulo Leminski por quase 20 anos, aparece para preencher a<br />
lacuna/buraco-negro da história da literatura mais inventiva produzida no<br />
final do século passado: a da chamada "geração marginal".<br />
Setembro de 2002<br />
*Lucas Carrasco é estudante de Letras na PUC-Campinhas<br />
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:<br />
O BANDIDO QUE SABIA LATIM (biografia de Paulo Leminski),<br />
Toninho Vaz. Editora record. 2001.<br />
HUMOR DE COMBATE: HENFIL E OS 30 ANOS DO PASQUIM, Dênis de<br />
Moraes. www.uff.br. 1999.<br />
A DIVINA COMÉDIA DOS MUTANTES (história dos Mutantes), Carlos Calado.<br />
Editora 34. 1995.<br />
C r í t i c a s<br />
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